terça-feira, 23 de outubro de 2007

Leste e Oeste

Nunca fui um bom aluno mas nem por isso deixava de cumprir meus objetivos acadêmicos. Passar no exame do Colégio Militar, ser aprovado em todos os anos do ensino fundamental e entrar na faculdade, foram minhas grandes conquistas estudantis. O problema é que nunca fui muito dedicado aos livros. Minha mãe e meu pai podem comprovar isso. Ou meus amigos da época de colégio, o Brito e o Viana. O complicado é que esses dois últimos não tem saco de ler esse blog. Na verdade poderia apostar que eles nunca leram uma só linha do que eu escrevi aqui. Vamos ver quanto tempo eles demoram para deixar uma mensagem contrariando essa afirmação.

Voltando ao colégio, como falei anteriormente, estudar não era o meu forte. O problema é que por essa falta de interesse perdi assuntos interessantíssimos de história, literatura ou geografia. Isso sem falar do português, onde minha ortografia continua sofrível. No fim do colegial, senti que existiam lacunas em meu conhecimento do mundo e precisei de muita curiosidade para preencher esses espaços vazios. Hoje acho que sou um cara mais culto. Ou menos burro, como preferirem.













Chegando aqui na Alemanha me deparei com uma dessas lacunas. Eu sabia muito pouco sobre a história Alemã. Principalmente os fatos que ocorreram após a segunda guerra e que culminaram na divisão da Alemanha em dois blocos de influências distintas. (Os assuntos que envolvem as duas grandes guerras já me são mais familiares. Claro que essa familiaridade não vem da escola).














Como hoje a história da Alemanha faz parte da minha vida cotidiana, comecei a me interessar por esse assunto. É incrível imaginar que à apenas 17 ou 18 anos essa cidade vivia duas realidades completamente diferentes. Ainda hoje essa separação é clara e visível nas ruas de Berlim. Para mim isso tudo é muito maluco. Quando eu assisti o Bial, no Jornal Nacional, apresentando a queda do muro jamais poderia imaginar que em poucos anos estaria caminhando naquelas mesmas ruas. A vida é surpreendente mesmo.













A história dessa separação é muito curiosa e dolorida. Ao contrário do que eu imaginava, o muro foi levantado em muito pouco tempo. Como que da noite para o dia a cidade estava dividida. E não era apenas um muro separando duas metades, ele circulava todo lado ocidental da cidade. Na prática, a pequena parte capitalista de Berlim, ficava como uma ilha em um oceano comunista. Antes de falar do muro, contudo, é importante salientar que essa divisão ocorreu muito antes, ainda na Segunda Guerra Mundial.










Berlim foi conquistada pelo Exército Vermelho em maio de 1945. De comum acordo, acertado pelo tratado de Yalta e confirmado pelo de Potsdam, entre 1944 e 1945, não importando quem colocasse a bota por primeiro na capital do III Reich, comprometia-se a dividi-la com os demais aliados. Desta maneira, apesar dos soviéticos tomarem antes a cidade, e também um expressivo território ao seu redor, tiveram que ceder o lado ocidental dela para os três outros membros da Grande Aliança, vitoriosa em 1945. Assim Berlim se viu administrada, a partir de 8 de maio de 1945, em quatro setores: o russo, majoritário, o americano, o inglês e o francês.
No dia 15 de agosto de 1961, Conrad Schumann foi destacado para controlar a linha divisória na rua Bernauer. Não teve dúvida, pulou sobre o arame farpado e escapou.

Com o azedar da relação entre os vencedores, em 1948 as quatro zonas reduziram-se a duas: a soviética e a ocidental. Em seguida, Stalin decidiu-se por um bloqueio total contra a cidade em represália ao Plano Marshall, que visava promover o reerguimento econômico da Europa destroçada pela guerra. Todas as estradas de rodagem e de ferro que ligavam Berlim com a Alemanha Ocidental foram então fechadas pelos soviéticos, na tentativa de fazer com que os aliados ocidentais desistissem da sua parte na cidade. Ou saíam ou os berlinenses morreriam de fome e frio.















Em 13 de Agosto de 1961, guardas da República Democrática Alemã (RDA) começaram a fechar com arame farpado e concreto a fronteira que separava as partes oriental e ocidental de Berlim, bem como Berlim Ocidental do território da Alemanha Oriental. Agravou-se assim a divisão da Alemanha no pós-guerra, dificultando a fuga de alemães-orientais para o Ocidente.

A RDA via-se com razão ameaçada em sua existência. Cerca de 2 mil fugas diárias tinham sido registradas até aquele 13 de Agosto de 1961, ou seja, 150 mil desde o começo do ano e mais de 2 milhões desde que fora criado o "Estado dos trabalhadores e dos camponeses". O partido SED puxou o freio de emergência levantando um muro de 155 quilômetros de extensão que interrompia estradas e linhas férreas e separava famílias.

Uma mulher tenta saltar da janela de uma casa do lado oriental para fugir para a parte ocidental de Berlim. Um policial tenta puxá-la de volta, enquanto berlinenses ocidentais procuram apoiá-la na fuga, que acaba obtendo êxito. Nas semanas seguintes, esta casa – como outras na linha fronteiriça – foi demolida, abrindo espaço para a construção do Muro.







Dois meses antes da construção do Muro, Walter Ulbricht, chefe de Estado e do partido, desmentira boatos de que o governo estaria planejando fechar a fronteira: "Não tenho conhecimento de um plano desses, já que os operários da construção estão ocupados levantando casas e toda a sua mão-de-obra é necessária para isso. Ninguém tenciona construir um muro". Bom, essa história nós sabemos como acaba.
Ninguém desejava uma muralha de pedra e concreto armado mais do que Walter Ulbricht (foto), o chefe de Estado da República Democrática Alemã (RDA).



Aqui vale a pena um comentário mais pessoal. É engraçado ver como o tempo passa e as coisas são parecidas. Acho que essa é a função da história: não permitir que os erros se repitam. O problema é que como eu a maioria dos brasileiros também não estudou muito no colégio. Me lembrei do Lula dizendo que não sabia de nada nos casos de corrupção do seu governo. É impressionante como os governantes tem a capacidade de não serem informados sobre os assuntos delicados.
No dia 17 de agosto de 1962, Peter Fechter, de 18 anos, foi assassinado ao tentar fugir para Berlim Ocidental atravessando o Muro.




Por mais de duas décadas, o Muro de Berlim foi o símbolo por excelência da Guerra Fria, da bipolarização do mundo e da divisão da Alemanha.

Ainda no início de 1989, Honecker, no poder desde 1971, manifestava confiança em sua estabilidade. "O muro ainda existirá em 50 ou em cem anos, enquanto não forem superados os motivos que levaram à sua construção."

Apenas dez meses depois, a 9 de novembro daquele ano, os habitantes de ambas as partes da cidade caíam incrédulos nos braços uns dos outros, festejando o fim da muralha que acabou sendo derrubada pouco a pouco e vendida aos pedaços como suvenir. Menos de um ano depois, o país dividido desde o fim da Segunda Guerra foi unificado, mas a verdadeira integração entre as duas partes é um processo que ainda não terminou.



Os paralelepípedos marcam o caminho do Muro





Diversas rotas guiam turistas e interessados pelo que sobrou do Muro, revelando ora seu caráter artístico como na East Side Gallery, ora triste e desolador como na Bernauer Strasse, ou ainda cru e assustador na Niederkirchnerstrasse. Vários trechos, às vezes consideravelmente longos, sobreviveram à explosão urbanística que tomou conta da capital alemã na fase posterior à queda do Muro e ainda são alvo de entidades que almejam transformá-lo em patrimônio histórico alemão ou até sugeri-lo à Unesco como patrimônio cultural da humanidade.


Mais caminhos do muro.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Dois assuntos e uma cidade.

Nos livros ela é Amsterdã, já os mais íntimos abreviam o nome para Adam. Uma cidade inigualável. Com seus 800 mil habitantes e uma média de 1,5 milhão de turistas anuais, suas ruas fervilham. Por onde quer que passeie a visão existe história, beleza e inteligência. Tudo sem perder o charme de um vilarejo. A reciclagem cultural é impulsionada por uma população estrangeira, ávida por coisas novas.



Vista para um dos canais









Semana passada, fiquei um sábado e domingo entre seus canais. Não poderia ser melhor. Na verdade, se a Lisi estivesse lá, seria perfeito. O clima da cidade sempre me impressiona. O que eu mais gosto é a liberalidade. Para muitos essa característica é uma desvantagem, para mim um complemento. Claro que existem problemas decorrentes desse posicionamento. No Red Light District (ou Walletjes), por exemplo, traficantes ocupam as ruas, iluminadas pelos neons vermelhos, oferecendo todos os tipos de drogas possíveis. Não que elas sejam legalizadas. Na realidade, em sua maioria elas não são. Existem algumas não industrializadas que foram toleradas na década de 70, entre elas está a maconha e os cogumelos alucinógenos. Essas são encontradas e vendidas em estabelecimentos específicos, as Smartshops e os Coffeeshops.






Coffeeshop






Minha abordagem no último parágrafo pode ter assustados os menos liberais. Mesmo assim posso garantir que não existe motivo para pânico. Tanto a Red Light District como os Coffeeshops são observados por câmeras. Nada passa da vista apurada da polícia holandesa. Liberdade sim, mas com controle do Estado. Talvez isso seja reflexo da Guilda de São Jorge, uma das corporações criadas para manter a ordem na cidade, por volta do ano 1533. Ou da Guarda Civil, fundada em 1580 pela união de três associações de atiradores. Poderia ainda propor qualquer outro motivo. Só escrevi esses dois primeiros para parecer inteligente.






When nature calls....











Red Light District







Um pouco mais de história me provoca a teorizar, novamente, sobre a cidade. Agora fico pensando na origem desse pensamento liberal.

No ano em que nosso país foi descoberto, Amsterdã já tinha 12.000 habitantes. Nessa época o comércio no mar Báltico trouxe riqueza e poder, fazendo dela a cidade mais importante da província da Holanda. Com a reforma protestante que varria a Europa, em 1578 Amsterdã se tornou a capital da nascente República Holandesa. Isso sem antes passar por uma guerra civil que durou 80 anos. No fim o vitorioso foi um governo protestante, feroz e intolerante, que expulsou os católicos da cidade. Esses protestantes Calvinistas tentaram, inclusive, abolir a prostituição que já era aceita desde 1478. Além de destruírem obras religiosas em Beeldenstorm, em 1566. Como vocês podem ver, eles já brigavam por liberdades individuais antes mesmo de sairmos do ovo como nação.




Jeitinho holandês. Casas são maiores no topo pois o imposto é cobrado pela parte de baixo.



Hoje em dia, baseados em uma política centrada no indivíduo, outras minorias encontram espaço para fazer valer suas opiniões e direitos. Apenas para listar algumas dessas iniciativas: o casamento homossexual (com direito a adoção), eutanásia e aborto.










A câmera ficou doidona






Mudando de assunto sem mudar de cidade.

Não sou ciclista, uso bicicleta como meio de transporte. Assim, meu negócio não são aquelas cheias de marchas, estilo esportista. A magrela precisa ser funcional, adaptada para o ambiente em que ela roda. A minha na Vila Olímpia era estilo grandona de praia, a diferença eram os pneus grossos e o banco hiper-acolchoado. Tudo para facilitar a vida em um dos bairros mais esburacados do Brasil (repito do BRASIL). Mesmo assim, era apaixonado pelo meus momentos pedalando nessas ruas horrorosas. Agora imaginem eu em Amsterdã que é bonita? É o paraíso. Todos só andam de bicicleta.





Fui para Holanda e lembrei de você.




Eu acho esse meio de transporte perfeito: não poluente, seguro, rápido e ainda o cara faz exercício. Tem algum melhor? Não entendo porque nenhuma cidade brasileira aproveita. Parece óbvio. Por que São Paulo não tem uma ciclovia descente (Aquela da Faria Lima é ridícula)? Dizem que o motivo é a cidade não ser plana. Eu acho uma meia verdade. Da Vila Olímpia, passando pelo Itaim e somando toda a faixa da Faria Lima, vemos um terreno bem nivelado.






A céu não é aplicado





Agora imaginem o seguinte cenário. O trânsito no interior dos bairros seria fechado e o acesso liberado apenas para carros de moradores, ciclistas, táxis, carga e pedestres. Para chegar a essas áreas existiriam estações de metrô, além das já conhecidas avenidas Faria Lima, Hélio, Juscelino e Marginal. Facilitando o deslocamento, bondes elétricos cruzariam o miolo do bairro. Tanto os bondes como o metrô deixariam que o passageiro entrasse com a bicicleta. O espaço para essas mudanças viria dos estacionamentos da área azul, obsoletos depois do esvaziamento de carros. De um lado passaria o bonde e do outro duas pistas de bicicletas. A via principal continuaria sendo apenas para carros. Acho que sobraria um espaço até para uma calçadinha. Um luxo se tratando de São Paulo.
Esse parágro tava horrível e só reparei agora. então dei uma arrumadinha.













Sou tão idealista que acredito que esse projeto é viável. Para quem trabalha na Vila Olímpia tenho um desafio: contar a quantidade de entregas que já são feitas em bicicletas. Esse teste pode ser feito em qualquer horário de almoço. É comum encontrar entregadores de padarias, restaurantes e pizzarias desviando dos carros. Existem até policiais que monitoram o bairro em suas magrelas militares. Isso apesar de todos os problemas. Imagina com espaço?

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Acordar em Berlim

Estou andando na Oscar Freire com a Lisi. Tudo da maneira como sempre foi. As lojas de marcas caras e os cafés trazem vida para o bairro. Pessoas de todos os tipos passam por mim. Nenhum deles sabe que eu controlo todos os passos daquele universo. São anônimos em sua ignorância. Caminho de mãos dadas com minha amada e tudo é perfeito.


De repente acordo em meu quarto em Berlim. Olho pela janela e vejo a antena da TV. Eu estava sonhando.

Havia me esquecido dessa sensação. As mudanças na nossa vida nunca são aceitas imediatamente pela rotina. A cabeça ainda funciona muito próxima das raízes. Principalmente as mais recentes, no meu caso São Paulo. Já passei por isso inúmeras vezes e não deixo de gostar do sentimento. A cabeça transita em dois (ou mais) universos distintos e familiares. Você deixa de ter apenas uma nacionalidade ou regionalidade. Agora será de muitos lugares e todos eles influenciarão na sua forma de entender o mundo.

Não é só em grandes mudanças que observamos esse fenômeno. Em pequenas viagens podemos sentir. Aposto que todos já passaram por isso, mesmo que seja no final de semana na praia. Apesar de ser em menor intensidade, não deixa de ter seu valor.

Mesmo acordado sinto isso. Basta estar com alguns brasileiros, em qualquer lugar da Europa ou do mundo, para presenciar a dualidade existencial. Enquanto todos estão reunidos e falando português, mesmo que estejam no alto da torre Eiffel, estarão todos no Brasil. Para sair das terras tupiniquins bastaria levantar a cabeça e respirar os ares congestionados de uma Paris cada vez mais populosa e poluida. Para quem mora em São Paulo nada chocante.

Essa semana receberei o Pernil e a Mari aqui em casa. Com eles dois, mais o Emiliano e eu, passaremos bons momentos transitando entre Berlim e São Paulo. Bom, talvez entrem outros planetas, não só cidades nesse nosso roteiro.

Conforme o cara vai se adaptando as mudanças uma nova rotina vai se estabelecendo. Os sonhos passam a habitar o mesmo lugar que o corpo físico. Para muitos essa é a hora de mudar, eu não concordo. Semana passada sonhei em Berlim pela primeira vez.







De onde é essa foto mesmo?
Eu sei.




Não foi nada de especial. Era apenas eu caminhando pelas ruas do Mitte. Passando pelo Hackesche Markt e observando o andar acelerado dos pedestres correndo para entrar no Tram (bonde). Enquanto tentava entender o alemão das pessoas do sonho comecei a escutar meu despertador. Acordei com os olhos ainda colados. Olhei o relógio e eram 9 da manhã. Quando levanto a cabeça estou desperto em um albergue em Amsterdã.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Faxina

Você que chegou agora e está se perguntando: ----Se até o Marco Loco conseguiu um trampo na Europa, porque eu não conseguiria? Vou adiantar que a tarefa não é fácil. Eu, particularmente, me preparei muito para o desafio. Iniciei no meu portifólio, passei pela minha conduta profissional e terminei em uma reflexão psicológica. A última foi a mais importante.

Afinal, que espécie de maluco seria capaz de largar uma carreira, já encaminhada em São Paulo, para começar tudo de novo em outro lugar? Vender todos os bens de consumo adquiridos em 11 anos de trabalhos forçados e abandonar um lindo apartamento em Moema? Além de deixar, para os gaviões se aproximarem, uma esposa absolutamente maravilhosa? Para tanto, certamente o cara precisa ter estrutura emocional.

Bom, as coisas estavam indo muito bem até sábado. Pensei estar preparado para tudo mas infelizmente não era bem assim. Foi nesse fatídico final de semana que fiz minha primeira faxina. Peguei vassoura, sabão e esfregão e fui dar uma geral no apartamento. É galera, aqui na Europa pagar empregada é caro e a qualidade da limpeza é bem duvidosa.

Comecei pelo banheiro. A pior parte tem que vir no inicio, depois tudo vai mais fácil. A privada, que para muitos é algo horrível, foi tranquilo. Tudo graças as toneladas de produtos químicos que joguei nela e em cada centímetro do banheiro. Queria ver qualquer bactéria sobreviver ao meu ataque. Dei dois passos para trás e contemplei minha obra. O lugar estava um brinco. Pelo menos foi isso que imaginei. Claro que estava errado.

Lembrei que no meu último banho o ralo demorava para escoar a água. Daí tive a brilhante idéia de levantar a tampa dele e ver qual o motivo. Não tenho palavras para descrever o nó que senti no estômago. Tinha tanto cabelo que pensei que uma peruca entupia o ralo. Sabe quando o cabelo fica velho e podre? Deu nojo imaginar? Agora pense que eu tive que colocar a mão ali e tirar tudo.

Do banheiro para a cozinha. Achei que ia ser mais fácil. Tirei todas as coisas dos armário e limpei cada prateleira com esmeiro. Depois fui movendo os eletrodomésticos do lugar para limpar melhor. Quando puxei o frigobar de baixo do balcão me assustei. Tinha uma camada de molho de tomate velha e esquecida em cima dele. Tudo já com aquele aspecto bolorento e verde. Peguei um pano e removi toda sujeira. Olhei com orgulho para o serviço. O problema é que tive outra brilhante idéia. Por que não olhar a parte de cima dos armários? Aquela onde os olhos nunca alcançam. Preciso falar da quantidade de pó que encontrei?






melhor que falar é mostrar





Essa experiência me fez valorizar muito duas pessoas: minha mãe e a Marleide.

Minha mãe, como muitas mulheres de sua geração, largou uma promissora carreira no ramo de turismo para cuidar dos filhos. Ela gerenciava a família e uma casa enorme em Ipanema. Raramente tinha ajuda de empregadas. Eu tinha dificuldade de entender porque ela negava auxilio para cuidado do lar, depois das aulas de psicologia aplicada a propaganda compreendi melhor.

Minha mãe negava ajuda pelo mesmo motivo que os bolos em caixinha pedem adição de leite (e ovos em alguns casos). Estudos provaram que a mulher quando vai a cozinha quer dar mais que uma refeição, ela quer dar amor. As consumidoras desse produto não consideravam que pegando um pacote e acrescentando apenas água, estariam dando o que a família mereceria. Para as mães, cuidar da casa é fazer um carinho em seus amados. Minha mãe me deu mais amor do que eu poderia calcular.

A Marleide é outra história. Foi a primeira empregada mais paranóica com limpeza que a minha esposa. Ela deixava minha casa mais limpa que um laboratório. Se não fosse pelo veneno de barata que a Lisi espalhava pela casa, afirmaria que seria possível comer no chão da cozinha. Que saudades da Marleide.

Entendendo um pouco mais os Europeus, até posso afirmar sobre os motivos de tamanha falta de higiene. É muito mais fácil cobrar de alguém pela limpeza do que fazer a faxina com as próprias mãos. Esse serviço tão pouco prestigiado no Brasil merece todo nosso respeito. Não que eu não tivesse antes. A diferença é que hoje consigo mensurar exatamente a dificuldade de manter uma casa limpa.

sábado, 22 de setembro de 2007

Tacheles

Tacheles em hebraico significa “se comunicar”, “revelar” ou “falar com clareza”. O uso coloquial já tem outro significado: levar a cabo.


O Centro cultural Tacheles está instalado em um edifício em ruínas, hoje reconstruído, no bairro de Mitte (onde eu moro). Essa zona, localizada na parte oeste da cidade, antigamente abrigava o bairro judaico. Hoje sua característica atrai os amantes das artes, cultura e, principalmente, é ponto de encontro de artistas.














O Prédio foi erguido em 1907 e era a entrada da Friedrichstadt-Passage (um grande centro comercial). Não demorou para que essa empresa quebrasse, sendo o prédio adquirido pela AEG. Essa última, instalou no local a Haus de Technik, onde expunha e vendia seus produtos.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o partido nazista abrigou no prédio o Departamento de Organização e Administração. Claro que não ficou nisso, no quinto andar foram colocados prisioneiros de guerra franceses. Sendo o edifício tão interessante para os Nazistas, não demorou muito para que ele se tornasse um alvo dos bombardeiros aliados. Entre 1943 e 1945, as bombas chegaram ao Tacheles que foi muito danificado mas não destruído completamente.














No ano de 1948, metade do prédio era utilizada para diferentes funções, enquanto a outra metade era esquecida e se degradava gradualmente. Tudo porque o governo, da antiga Alemanha Oriental, não tinha dinheiro para as reformas necessárias, além de não ver uma utilidade futura para a área. Bom, eles até acharam uma: estocar material de construção. Uma ironia para um prédio que necessitava ser renovado. Esquecido ele ficou e o tempo passou.














A última parte da estrutura seria demolida em Fevereiro de 1990. Felizmente, em Abril desse mesmo ano um grupo de artistas invadiu o local. Tomou as instalações e declarou o edifício como um monumento histórico, devido a sua arquitetura e estrutura de aço. Com a renovação do Mitte e das área próximas como Prezlauer Berg e Friedrichshain, artistas do mundo todo passaram a aproveitar os espaços livres como teste para seus estilos de vida alternativos e liberais. Uma filosofia que pregava a autonomia, a espontaneidade e a improvisação.














Assim a Tacheles logo se tornou famosa. A característica do edifício, somada aos novos inquilinos, que trouxeram criatividade e vida a região, fizeram desse prédio um centro reconhecido internacionalmente. Hoje ele está em quase todos os guias de viagens e o Mitte virou o bairro da moda Berlinense.

Chegar pela primeira vez aqui assusta um pouco. E foi esse edifício a principal inspiração para o texto sobre a Cidade Baixa. As duas fotos que anexei lá em baixo são dessa galeria. Com o tempo, entendi que a Tacheles é muito mais que uma festa descolada no final de semana. É um estado de espírito artístico. Onde além da galeria se pode tomar uma cerveja cercado de pessoas estranhas, turistas e alemães de todas as idades.














Aproveito a feliz coincidência de sermos “vizinhos” para passear por suas instalações semanalmente. Observo os artistas que ali abrigam seus ateliês e também os grafiteiros que deixam seus rabiscos por toda parte. Para mim tudo é lindo, novo e curioso. Mesmo para um cara liberal, se defrontar com tamanha anarquia pode ser assustador. Isso só no início, claro.



Inspiradora. Talvez seja essa a palavra que melhor defina a Tacheles, para mim. Vamos ver se esse sentimento se traduz em algum trabalho pessoal relevante. Como falou meu pai, apesar de ser bem internacional, não tem nenhum brasileiro lá. Só tendo um coroa corujão ao teu lado para sonhar tão alto.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Brazilian Wax

Uma das coisas que eu mais gosto no meu relacionamento com a Lisi é não termos ciúmes. Não que ele seja inexistente, isso seria uma mentira. Digamos que ele fique em um nível salutar e respeitoso. Manter o ciúmes em um estado adormecido é fundamental em um relacionamento a distância. Imagino como seria complicado, para outra mulher, entender que seu marido está sozinho em um país de loiras gigantes. No caso da Lisi isso não assusta. Ela se garante com seus 1,60cm. Tá bom amor, 1,63cm.

O engraçado é que mesmo que eu fosse um canalha taradão, ela não teria motivos para ciumeira. Ao contrario do que o Manir falou, dizendo que as loironas ficam malucas com um latino, aqui na Alemanha elas nem me olham. Tudo bem que não sou nenhum bonitão mas tem coisa bem pior no mercado. E isso não sou eu quem está falando. São os corações que aparecem no meu perfil do orkut.

Para falar a verdade, eu nem tinha reparado que estava tão mal na foto. Só fui perceber depois de trocar uma idéia com alguns amigos brasileiros lá da agência. O meu problema não é o maxilar pequeno e nem o nariz maiúsculo. O meu problema aqui é a quantidade de cabelo no corpo.

Porra. Logo isso? Se fosse qualquer outra coisa até tentaria arrumar. Operar o nariz? Fazer musculação? Colocar um dente de ouro? Tudo seria mais fácil do que depilar meu lindo peito cabeludo. Isso se o problema fosse só o peito. Ele vai além. Passa pelos braços, pernas e vai até o saco. Que coisa. Definitivamente não sou corajoso como o Bruno Cardoso para passar a gillette. (Fudi com o Brunão nessa)








A. barbadensis Mill., A. vulgaris Lam. ou Aloe Vera, a popular babosa


E pensar que, no colégio militar, tinha uma gurizada que colocava babosa no peito e no bigode. Tudo para ficar com cara de homem. Eu não precisava, desde novo já ostentava um belo tórax cabeludo. Sempre me orgulhei de ser do tipo Tony Ramos. A testosterona é um hormônio em alta aqui nesse corpinho. Um macho como nos velhos tempos. Do Tempo das cavernas.