quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Alemão sabe tudo de samba e futebol

Alemão sabe tudo de samba e futebol.


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

EGITO

Sempre tive curiosidade acerca do Egito e sua história. Desde muito jovem, quando o interesse passava pelas lendas e deuses egípcios, até a fase adulta mais centrada no lado esotérico e histórico.




Hotel Jazz Mirabel em Sharm el Sheikn







Minha maior dificuldade para realizar o sonho, no momento, era convencer minha esposa Lisi que, passear por um país muçulmano, com temperaturas escaldantes e uma dezena de ruínas no deserto, seria um programa legal. Felizmente, encontrei um interessantíssimo cruzeiro pelo Nilo. Passando pelos principais templos de meu interesse, iniciando por Luxor e Karnac, na antiga Thebas, incluindo Dendera, Aswan, Abu Simbel entre outros, isso sem abrir mão de todo luxo de um hotel 5 estrelas. Em troca de mais alguns dias no Cairo, acrescentei uma passagem para Sharm El Sheikn onde ficaríamos em um excelente Resort, na base do monte Sinai, com o Mar Vermelho como paisagem. Sim, o Euro forte facilitou (e muito) a minha vida. Como pseudo-europeu, nada melhor que gastar meu salário no terceiro mundo. Assim, no dia 29 de janeiro partimos rumo a Luxor.














Para não ficar chato, dividi o texto em partes. Algumas são um pouco mais cabeçudas e, portanto, cansativas. Em todo caso, escrevi também pequenas observações sobre coisas engraçadas e curiosas.
















Façam bom proveito.



INÍCIO


Luxor, a cidade que conhecemos hoje, nada mais é que a região onde abrigava a antiga Thebas, a grandiosa capital do Novo Reino do antigo Egito, cidade do Deus Amon-Ra. Chamada, também, de o maior museu a céu aberto do mundo, abriga dois dos maiores complexos de templos de todo planeta (Karnak e Luxor) e é próxima de uma centena de outros sítios arqueológicos, como o Vale dos Reis, Vale das Rainhas e, um dos mais preservado de todos os templos, Dendera. Isso sem mencionar o maravilhoso complexo mortuário de Hatshepsut. Apenas pra corroborar com o que escrevi, vale apresentar um número. 85% de tudo que foi encontrado do antigo Egito encontra-se na região da antiga Thebas.














Chegamos ao aeroporto e como primeira providência fizemos o visto. Fácil, rápido e indolor. Uma grande vantagem que observamos do passaporte verdinho é a receptividade nos países que dividem a pecha de terceiro mundo. Todos gostam do Brasil. “Ronaldinho, Kaká, Denílson, Romário, Pelé, Robinho” são as referencias automaticamente associadas. Não há dúvidas que o futebol é o nosso cartão de visitas. Melhor embaixador não existe. Isso sem falar que, quando usei o manto do Internacional, fui reconhecido. Como esquecer o emocionante jogo contra o Al-Ahly em Tókio? Ou a vitória diante da Inter de Milão em Dubai, transmitida para todo o mundo árabe? Sei que os gremistas tendem a diminuir esses dois jogos, felizmente o mundo não é definido pelos seus desejos. Em todo caso, nem por isso deixei de escutar, de um comerciante, “Batistuta”. Erro gravíssimo. Ao que Respondi: “perdeu a venda companheiro”.







Meu brother Mustapha.






Começamos o primeiro dia em Dendera, que é um complexo, como já falei, muito bem preservado. Acredito que o motivo seja por ser um dos mais recentes templos, ainda do período Ptlomaico. Em outras palavras, da dinastia grega que sucedeu a conquista do Egito por Alexandre o Grande. Impressionante e, ao mesmo tempo, repugnante é a forma com que esse maravilhoso complexo fora usurpado pelos subseqüentes colonizadores cristãos. Ali fora construída uma igreja, além de colunas e paredes ricas em hieróglifos serem cobertas por pinturas de apóstolos e santos. Felizmente essas últimas não resistiram ao tempo, permitindo que posteriormente voltasse a deslumbrante arte egípcia. Claro que esse estupro cultural não é privilégio único desse templo ou do Egito. Em todo mundo a imposição religiosa cristã só faz envergonhar seus fiéis.





Cruz esculpida em antigas pedras de templos.












Karnak






Voltando ao povo. Aproveitamos o início da tarde para fazermos um passeio de charrete pelo interior de Luxor. O ponto alto dessa incursão seria um legítimo mercado egípcio. Não os organizados Bazares próximos ao Nilo, mas os verdadeiros e pobres mercados mais afastados. Localizado, ao que parecia, em uma grande favela árabe.






Um carroceiro, não o meu condutor.






Durante o caminho, crianças abordavam nossa charrete tentando vender toda a espécie de produtos. Esses, ao aproximarem-se, em pequenos bandos, atrapalhavam a vida do condutor que não desviava. Ele afastava-os apenas mencionando pegar um longo chicote, que inicialmente servia para conduzir o cavalo. Reservava, também, aos mais insistentes, um breve estalo do relho.







Vista do barco no Nilo.







Nada educado, muito desumano, mas bastante eficiente.

Na pequena carroça íamos quatro: eu e a Lisi, o condutor e seu filho pequeno, chamado Ahmed. Conforme afastava-nos do Nilo, a pobreza crescia e a conversa com o carroceiro ficava mais interessante. A semelhança com o pior do Brasil é óbvia, principalmente quando deparei-me com um grupo de criança catando comida no lixo. A diferença ficava com o fato de meu condutor falar um inglês muito bom. Muito superior a média brasileira mas sobre isso estenderei-me um pouco mais adiante.






É Brasil!!!!







Entre o zumbido de milhares de moscas que se aglomeravam nas frutas do mercado, nas pessoas e pedintes, escutava as sábias palavras do carroceiro. Ele apontava para os prédios e tecia comentários sobre escolas adornadas com a foto do presidente, alem de dar-me dicas importantes de como tratar uma mulher.






É Brasil!!!!!







A mais interessante delas era acerca de seu hábito de fumar haxixe. Como muçulmano ele havia parado de beber álcool já faziam 4 anos. Agora, apenas uma boa fumadinha TRÊS vezes por semana. Com a justificativa que o haxixe era um bom afrodisíaco e ajudava-o a deixar a mulher bem feliz. Pude perceber que o efeito deveria ser realmente bom. Afinal, mesmo na presença do pequeno Ahmed, ele não conseguia parar de mexer com todas as mulheres por quem passávamos.



LUXOR, KARNAK, evolução do homem e Atlântida.

O templo de Luxor foi um momento especial. Na entrada, através de uma avenida de esfinges, todas representadas com a face de Tuthmosis III, um gigantesco obelisco marca o local do antigo pórtico. Antes eram dois desses gigantescos falos apontando o céu, o segundo, hoje encontra-se na praça de La Concorde em Paris. Presente de Mohammed Ali do Egito para Felipe II da França.









Luxor








Luxor fora construída face a face com Karnak, distante 3 km deste, o palácio fora erguido para grande festividade de Opet, quando a estátua do Deus Amon era trazida em procissão. Nesse dia todos bebiam e festejavam a fertilidade da terra, ou melhor dizendo, as cheias do Nilo.

Para mim, o complexo que integra Karnak e Luxor, tem um efeito ainda mais intrigante. Isso devido a figura enigmática de um mestre esotérico. Durante seus estudos sobre a verdadeira natureza do homem, George Ivanovitch Gurdjieff, havia passado por ambos os templos. Para ele, a verdadeira sabedoria, que proporcionava a formação de um homem consciente, estava perdida em alguma tradição esquecida. Provavelmente trazida de um continente esquecido.






Lisi no clima árabe.







Um dos possíveis vestígios desse conhecimento, está nas paredes de Luxor, onde encontramos um desenho de Amon, representado com uma coroa dupla e um longo falo (pênis) lançando suas sementes (ejaculando) pela terra.








Detalhe de favela no Cairo.





Para William Patrick Patterson, seguidor do terceiro caminho de Gurdjieff e autor de um documentário sobre este, a coroa dupla representa os dois aspectos do homem, animal e espiritual. O homem consciente, de natureza presente unifica essas duas antíteses. O pênis seria a comunhão com o espírito. A necessidade da carne de unir-se com a alma. Nesse caso a teoria ganha mais força se notarmos que a posição do falo, na figura, é um pouco acima do que a anatomia real. Posicionando-se, assim, na barriga. É sabido que para os egípcios a força cognitiva vinha do coração e das entranhas e não do cérebro. Assim a ejaculação representaria a comunhão espiritual.





Esfinge.









Para os egiptólogos, a coroa dupla é a união do alto e baixo Egito, sendo a ejaculação representação da fertilidade trazida pela cheia do Nilo.

Uma terceira interpretação ainda se faz necessária. Talvez o Deus Amon seja um predecessor dos futuros artistas do ramo do entretenimento adulto. Bem dotado e também em forma, não seria difícil atestar que Amon El Egípcio poderia ganhar muito dinheiro no pornô.

A construção do templo de Luxor é objeto de diversos estudos, alguns afirmando que ele apresenta as mesmas proporções do corpo humano. Sendo assim, um complexo destinado ao homem e sua evolução espiritual.

Importante também comentar que em uma das capelas do templo, encontra-se representações de hieróglifos que contam a real natureza de Alexandre o grande. O conquistador macedônico, segundo gravuras nas paredes, era filho de Amon, assim sendo, governante legítimo de todo Egito, um Deus entre os homens, o novo faraó. Toda essa receptividade veio com a libertação do Egito do domínio Persa, por Alexandre. Assim é introduzida a dinastia Ptlomaica, cuja maior representação encontra-se em Cleópatra VII.

Karnak é um templo muito bem acabado e orientado astrologicamente. O fato de, no solstício de inverno, o sol nascer em sua face oposta, ocupando o espaço de um altar e iluminando o templo através do corredor central, representa a chegada do homem ao amadurecimento espiritual, comungando, finalmente, com a alma. Suas altas colunas com desenhos de papiros e também lótus, representariam o nascimento da alma, no lodo do pântano de nossa humanidade, transformando-se através da evolução, em uma bela flor. Exatamente a mesma mensagem que essa flor transmite para os seguidores da doutrina Budista.







Colunas Karnak







O jardim botânico que existiu, ainda nesse templo de Karnak, impressiona. Além de animais de todos os recantos e conquistas do Egito, encontrava-se lá as mais diversas plantas. Algumas não nativas e que serviam ao deleite exclusivo do faraó. Entre essas estavam frutas, como manga, maças e pêssegos, além de cogumelos comestíveis, ópio e maconha. Alguns estudos subseqüentes, em múmias, ainda identificaram a presença de Nicotina. Seria uma informação trivial, se o tabaco não fosse desconhecido na África e Europa naquele tempo. Eram privilégio da America pré-colombiana. Seria essa uma prova da relação, anterior, entre os dois povos divididos pelo Atlântico? As construções de pirâmides e a representação do Deus Maia Huracan, responsável pela grande Inundação, são outras peças que comprovariam tal afirmação. Ou isso apenas mostra que todos esses povos vieram de uma civilização mais antiga ainda? Talvez nenhuma das afirmações. Eu, particularmente, acredito em ambas.

A representação da barca no antigo Egito, como instrumento que leva as almas dos mortos para uma pós-vida, através das águas da escuridão, para muitos, é apenas uma alegoria de passagem. Para outros isso representa laços ainda mais antigos com povos que em barcas chegaram após um dilúvio. Textos assim são encontrados em hieróglifos de Edfu e em cuneiformes mesopotâmios. Nesse último, o texto é conhecido por Gilgamesh. Posteriormente, essa história, foi copiada quase que integralmente na Bíblia, na referencia feita a Noé.






Barca.







Voltando a Edfu. Nesse templo a história conta sobre a chegada de 7 marinheiros. Esses seriam os primeiros habitantes do Egito. Através deles a sociedade teria desenvolvido-se. O antigo texto também fala do motivo pelo qual vieram. Ao que tudo indica, a ilha onde eles habitavam afundou em uma catástrofe, um dilúvio. Algumas das inscrições do templo de Edfu podem ser datadas em um período de 2500 anos antes de Cristo.







Barco turístico, chá no Nilo.





Outra informação interessante. Na base da pirâmide de Giza, fora encontrado, enterrado, um barco. Primeiramente, desconfiou-se que essa barca, com seus 46 metros de comprimento, era usada para fins cerimoniais. Posteriormente, o propósito pareceu ser outro e mais óbvio: a navegação. Sua engenhosa construção atesta a teoria. Tudo por ser baseada em uma centena de tábuas moldadas e amarradas com cordas, uma a uma, interna e externamente. O resultado é que em contato com a água, a madeira expande-se enquanto a corda encolhe. O resultado é um casco completamente a prova d’água. Para alguns historiadores o barco era ainda mais navegável que qualquer outro da frota de Cristovão Colombo. Provavelmente isso seja um exagero. Afinal não foram encontradas velas junto a ele
e sua capacidade de carga limitada.

Tudo isso parece um pouco maluco e eu concordo. Mas imaginem que eu poderia estar falando de coisas ainda mais doidas. Como a construção das pirâmides por alienígenas, os Deuses astronautas ou então sobre a maldição do faraó. Nesse cenário, pensar em Atlântida não é absurdo.



EGITO como exemplo.

Toda essa a evolução, atingida pelo império faraônico, parece não ter durado até o Egito moderno. Problemas posteriores a invasão árabe e mais antigos que a Guerra dos Sete Dias, são os responsáveis pelo estado de pobreza atual. Mesmo assim noto que eles tem algo a ensinar-nos. Principalmente no campo do turismo.






Temperos orientais, a melhor dica para os cozinheiros




Apesar de terem um alfabeto completamente diferente do nosso e falarem uma língua nada próxima das conhecidas ocidentais, o turismo deles humilha. Claro que devemos citar algumas vantagens, como estarem a um vôo de no máximo 5 horas da maioria das capitais européias. Mesmo assim recebem mais turistas americanos que nós brasileiros, e isso que o Brasil não tem células terroristas.







Fotinho com veiote




Como todo país de terceiro mundo, o serviço é muito bom. A qualidade é aprimorada com a vantagem de a maioria dos comerciantes e pessoas falarem no mínimo o básico de inglês. Isso na pior das hipóteses. O carroceiro que conheci, do qual já me referi anteriormente, falava um inglês bom. Toda a tripulação do meu barco fala alemão e inglês, sem mencionar os que além dessas duas se comunicam em espanhol, francês ou italiano. Os comerciantes que falam apenas inglês, sabem o mínimo para vender e negociar em pelo menos outras 3 línguas. E isso inclui as crianças, que aproximam-se nos bazares, falando a mesma frase em alemão, espanhol e inglês. Uma situação completamente oposta a que eu encontrei em Natal, no Rio Grande do Norte. Garanto que as riquezas naturais que encontrei naquele pedacinho do Brasil fariam qualquer gringo chorar. Infelizmente, apenas uns dois restaurantes tinham serviço em inglês e cardápio em outra língua que não o Português. Tudo bem que o Rio de Janeiro é mais preparado, mas mesmo a capital do nosso turismo não seria páreo para a pequena Aswan, no quesito línguas.







Komb Ombo






Outra questão diz respeito aos cruzeiros. Quantos desses encontramos no segundo maior rio do mundo? O Amazonas é uma de nossas maiores relíquias. Eu mesmo seria um candidato a esse passeio. Talvez até existam barcos que o façam o trajeto mas, apenas para ilustrar, acredito que devam existir pelo menos 500 que façam esses cruzeiros pelo Nilo. Talvez a navegação do Amazonas não seja tão fácil, pela quantidade de sedimentos que ele carrega em suas águas. Mesmo assim imagino que o problema seja contornável.






Michael Jackson








Uma terceira questão diz respeito a segurança. Hoje caminhei pelas pequena vielas de Aswan. Abandonei as vias tradicionais e infiltrei-me nas pequenas ruelas mais distantes. A pobreza estava em toda parte. Diria que em muitos lugares encontrei situação ainda mais critica que em favelas brasileiras. Por toda parte encontrava turistas nas mesmas condições que eu, caminhando despreocupados. Inclusive meninas desacompanhadas. Todos sem medo, com câmeras fotográficas nas mãos e um sorriso no rosto. Com exceção feita aos comerciantes chatos e a diferença cultural evidente, que proporciona curiosidade, poderia dizer que o passeio era monótono. Essa é a vantagem de um pais muçulmano. No geral os roubos não são tolerados. Qualquer atitude de violência é um atentado contra a economia do pais.
Basta lembrar o colapso que gerou o ataque de 1997.



LISI PONTO TURÍSTICO

Certamente, o maior ponto turístico do Egito não era Karnak. Muito menos a esfinge ou a gigantesca pirâmide de Giza. O maior ponto turístico do Egito, enquanto estivemos lá, foi a Lisi. O Emiliano falou que, enquanto esteve na Índia, a sua namorada húngara teve o mesmo problema.




Mesquita de Muhamed Ali. Lisi é obrigada a cobrir-se para entrar.






O fato é que a Lisi, por ser loirinha e bonita, chamava muito a atenção. Por onde passávamos o povo se emocionava. O ponto alto foi em Komb Ombo, onde uma pequena excursão parou para tirar fotos conosco. Claro que só liberava minha bela modelo caso eu estivesse na foto também. Se o magrão achou que ia ser fácil, se deu mau.






Pirâmides.







Outra passagem interessante foi no Vale dos Reis. Lá o grande numero de árabes, pela primeira vez, superou os ocidentais. Além de, por ser no meio do deserto, a Lisi obrigou-se a usar uma mini saia. Engraçado foi olhar as meninas tirando foto com o celular e o orientador da escola pedindo que elas desviassem os olhos, ao passar pela Lisi.





O ISLAM NO CENTRO DA MODA

Em uma grande cidade como o Cairo, é possível observar as variações de interpretação que o Islam recebe de suas fiéis. Algumas características são comuns na grande maioria das mulheres. O corpo quase que completamente coberto e o lenço em volta do rosto é uma regra. Por outro lado, existem variações nessa regra que chegam a ser engraçadas.













Para algumas mulheres a religião é extrema. Mostrando apenas os olhos através de uma máscara, mesmo com o calor e forte sol, elas vivem a vida. Claro que existem outras meninas que não respeitam em nada essas regras, mas no Egito são a minoria. A maioria delas usa uma variação mais moderna, mesmo as de famílias mais abastadas. As meninas continuam cobertas, mas realçam suas formas com roupas mais justas, e de marcas bacanas. É comum encontrar garotas com calça e bolsa Diesel e um lenço Chanel cobrindo o cabelo. Tudo como manda a regra religiosa mas muito mais feminino.






Lisi fazendo amigos.









EDFU e o templo de Hórus.

Edfu é um templo dedicado ao Deus Hórus. O falcão, como é conhecido, filho de Osíris e Isis. Osíris foi o primeiro rei do Egito. Tirou seus habitantes do barbarismo e ensinou-os a agricultura, as artes e a ciência. Ao que tudo indica, isso ocorreu no ano de 5000 antes de cristo. Após esse primeiro trabalho junto ao seu povo partiu para a Mesopotâmia onde seguiu com seu objetivo, espalhar o conhecimento.






Hórus







Quando voltou, encontrou seu irmão Set em seu lugar como rei. Apesar de seus laços de sangue Set enciumou-se de Osíris e matou-o. Sua ira foi tão grande que cortou-o em 14 pedaços, espalhando-as partes por todo Egito, para garantir que esse não voltaria. Isis saiu em busca de seu marido encontrando apenas uma das partes, seu falo. Seu membro era tão forte que, mesmo sem o resto do corpo, foi capaz de engravidar Isis. O resultado dessa relação foi Hórus o Deus falcão. Pelo visto todo o panteão de Deuses Egípcios poderia trabalhar no entretenimento adulto.

Hórus cresceu em conflito com seu tio Set, o assassino de seu pai. Na idade adulta, finalmente, ele domou seu desafeto. Unindo assim os dois reinos do Egito norte e sul. Além de suas duas partes, animal e espiritual. Osíris representa a força criadora do mundo. Por outro lado Set, representado pelo Hipopótamo, é o desejo, a carne, o materialismo. A oposição necessária para a criação, a antítese no sentido espiritual. O que nós cristãos chamamos posteriormente de Diabo, o adversário. Assim Hórus, como o espírito, precisa reunificar-se com a carne, Set. A única forma seria domá-lo, pois jamais conseguiria derrotá-lo, se o fizesse não existiria mundo. Sem materialismo não existe a terra que conhecemos. Da mesma forma Hórus não pode ser destruído, pois sem espírito o homem volta a ser nada mais que um animal.




TERRORISMO

Hatshepsut foi rainha do Egito, uma faraó mulher. Através de sua força política obrigou os clérigos a reconhecerem a sua legitimidade como filha de Osíris. Seu reinado poderia ter passado em branco, para a posteridade, fruto da ambição de seu predecessor. Thutmosis III mandou apagar todos os registros da rainha, nas paredes do templo Djeser-Djeseru, para evitar que suas filhas pequenas contestassem o trono. O belo templo erguido pelo arquiteto Senemut foi covardemente modificado. Infelizmente esse não foi o único ato de insanidade que essas paredes testemunharam.





Templo de Hatshepsut








Em 1997, 58 turistas e 4 egípcios foram assassinados pelo grupo terrorista islâmico Al-Gama’a Al-Islamiyya, no que ficou conhecido como o massacre de Luxor. Como conseqüência, o pais sofreu sua maior crise no ramo turístico. Se pensarmos que esse é o ramo mais lucrativo da economia do Egito, fica fácil imaginar os problemas que seguiram a esse ato terrorista. Como exemplo cito meu guia Mustapha, especialista em egiptologia, hieróglifos e fluente em alemão, ficou 3 anos desempregado.













Não é fácil imaginar como o terrorismo é mau visto pelos egípcios. Mesmo os muçulmanos mais dedicados discordam dos atos de derramamento de sangue. Isso não deixa o pais livre mas diminui bastante o risco. Apesar disso, outros atos terroristas aconteceram e células extremistas são encontradas em todo país. O mais recente na península de Sharm el-Sheikn, felizmente não com as conseqüências dos atentados de 1997.



MANCHA NA TESTA

Quando vocês assistirem o canal Al Jazira ou algum líder islâmico for entrevistado na CNN, reparem na testa dos caras. Em sua maioria, ela apresenta uma mancha escura. Ela pode variar em tamanho, formato e calosidade. Quanto maior e mais marcada, mais religioso e, portanto, mais moral ele tem em sua comunidade.















Essa mancha escura é fruto do repetitivo esforço de encostar a cabeça no tapete, durante a oração diária. Todo o bom muçulmano tem que ter a sua calosidade. Imagino que isso deva ser a base para tudo. Vai no banco pedir um empréstimo, antes dá uma escurecida na mancha com maquiagem ou carvão. Vai falar pela primeira vez com os pais da mulher que se interessou, umas duas raspadinhas no carpete para ajudar.



BANDEIRINHA DE GUIA.

Todo guia tem uma bandeira, ou seja lá o que for, para chamar a atenção de seu grupo. Lembro-me na Disney, numa viagem em que quase enlouqueci minha mãe, dos guias usando bandeirinhas com os nomes das agências. No Egito a disputa é ainda mais acirrada. Cada centímetro de templo é disputado como em uma guerra. No lugar do guia preocupar-se com um bom lugar na Space Montain, ele procura um pedaço de muro com uma história interessante, contada em hieróglifos. Meu guia, Mustapha, muitas vezes promoveu verdadeiras discussões em árabe pelo privilégio de mostrar um desenho na parede.













Em um ambiente tão competitivo, diferenciar-se da concorrência é fundamental. Para tanto, todos os artifícios criativos são válidos. Nós publicitários sabemos bem disso. Bem, achamos que sabemos.













No meio da multidão diferentes instrumentos são utilizados para caracterizar os grupos e seus guias. Um cabide de roupas, um buque de flores, uma bengala, um pedaço de pau com um boné na ponta, um guarda-chuva, um bastão com fitinhas amarradas, são alguns exemplos. Imaginem que eu achava as bandeirinhas na Disney exageradas e vexatórias.



Excursão da TERCEIRA IDADE ALEMÃ

Antes de partir rumo ao Egito fiz algumas pesquisas. A melhor proposta foi de uma agencia. Eles ofereceram um pacote com todos os atrativos que procurava, 25% mais barato que os outros. A única desvantagem era que o guia só falava alemão. Bom, por 25% de desconto eu nem pensei duas vezes para responder sim. Um dicionário resolveria meu problema.














Quando cheguei em Luxor, para o cruzeiro, percebi que a pessoa mais jovem, com exceção de eu e a Lisi, tinha 65 anos. Sem problemas, afinal de contas sempre me dei bem com os mais velhos. O problema é que em sua totalidade, a língua materna era a única opção. Assim, fui obrigado a falar alemão o dia inteiro. Chegava para dormir com a cabeça pesada. Tinha que entender as explicações sobre a história do Egito em alemão e ainda traduzir para a Lisi (que nem fazia menção de prestar atenção).














Por ser o mais jovem da excursão, não demorou para que algumas coisas ficassem evidentes. Eu era sempre o último a me apresentar para a partida dos passeios. Fui o único a ser barrado no jantar de gala por estar de Havaianas. Também era o que tinha mais dificuldade de entender as histórias, por não ter convivido com os faraós.




GORJETA E JEITINHO EGÍPCIO

Tudo no Egito funciona na base da gorjeta ou da propina. Qualquer trabalhador espera um dinheirinho quando cumpre seu dever. Seja ele o motorista, o carregador de malas, o garçom, ou o cara que arruma as camas, todos querem uma graninha. O Egípcio médio anda com um bolo de dinheiro, apenas com notas pequenas. Tudo para facilitar a gorjeta.















Outro esquema bem difundido é semelhante ao brasileiro. Pagando você pode fazer tudo. Entrar em lugares proibidos dos templos, por exemplo. Ou tirar foto segurando uma legítima AK-47. Tudo é permitido.














Fique atento ao jeitinho Egípcio. O cara diz que vai tirar uma foto sua com a patroa. Ele pega a câmera, tira a foto e só devolve se tu der uma graninha. Uma coisa bem comum, também, é um legítimo árabe se oferecer para tirar foto com você. No fim ele apenas esfrega os dedos pedindo um dinheirinho. Os caras dos camelos também são espertos. Eles oferecem para tirar uma foto no alto do camelo. Baratinho, apenas 1 euro. Bom, por esse preço fica fácil aceitar. Depois que você sobe no camelo, ele diz que só desse o bicho por mais 5 euros. O problema é que o camelo tem 2 ou mais metros de altura. Para mim isso não seria um problema mas para a Lisi, com seus 1,60 m, a situação complicaria.















Se não estiver disposto a comprar algo não de conversa para os vendedores. Eles são um saco. E vão tentar de tudo para empurrar algo para você. Caso esteja interessado em gastar uma grana, só aceite negociar ou comprar algo quando o preço chegar a um terço do valor inicial. Nem que para isso tenha que virar as costas e sair da loja. No geral, eles vão correr para aceitar o valor que você ofereceu.

Para resumir e facilitar a vida, aqui vai uma verdade: não tem como escapar desse povo. Então guarde a dica. Tenha sempre alguns trocados no bolso e prepare a lábia.




PICHADORES DO PASSADO.

Quem assistiu a série Roma, percebeu como as paredes das casas e templos sofriam com pichações. Quando visitei Pompéia tive a oportunidade de comprovar esse fato. A cidade era tomada por esse tipo de arte ou vandalismo. Vale lembrar que esses atos não era privilégio de Roma, no Egito foram encontradas pichações nas paredes da pirâmide de Gîza feitas por trabalhadores que a construíram.














Interessante falar que para o mundo Grego e Romano, esses incríveis templos e necrópoles, do antigo Egito, logo viraram pontos turísticos. Assim que esses dois impérios se sucederam no controle das terras da planície do Nilo, milhares de estrangeiros começaram a trafegar nessa área. O Vale dos Reis, por exemplo, fora visitado por viajantes Europeus muito antes que começassem seus estudos arqueológicos mais avançados.














Prova dessas afirmações são as centenas de pichações encontradas nos templos de todo o Egito. Algumas em Grego e outras em Latim. O interessante é que hoje, esses atos de vandalismo e ignorância, também fazem parte da história e recebem todo o cuidado para serem preservados.




NÚBIA














Um dos passeios mais interessantes que fiz foi em uma autêntica aldeia Núbia. Os núbios são um povo que habita o sul do Egito e Norte do Sudão. Historicamente foram a primeira civilização negra da África. Fundaram o reino de Kush, que no terceiro milênio antes de Cristo esbanjava poder no sul do Nilo.






Núbios











Hoje muito pouco sobrou de seu esplendor. Suas vilas pobres estendem-se ao longo do Nilo. A língua Núbia, que chegou a ter sua própria escrita, hoje depende totalmente do alfabeto árabe.














A aldeia que conheci era, como de se esperar, muito pobre. A religião árabe hoje predomina na região, inclusive entre os Núbios. Fui em uma casa de chás e fiquei algumas horas observando os populares. Infelizmente muito de sua cultura hoje está perdida. As constantes invasões e desmantelamento do império fizeram com que esse povo perdesse muito de sua identidade. A língua parece ser o único fiapo de história que liga o reino grandioso de Kush, que chegou a conquistar o sul do Egito e assustou Alexandre o Grande, a essas paupérrimas vilas ao longo do Nilo.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Gastarbeiter

Imagine-se morando no Brasil e não falando um português perfeito. Trocando alguns artigos e algumas concordâncias. Além de não falar tão bem a língua, some-se a isso o fato de ser de uma minoria étnica. Como indianos na America do Sul, por exemplo. Tendo feições tão distintas dos conterrâneos, ser reconhecido e por conseqüência discriminado é fácil. Por outro lado, você tem um passaporte Brasileiro, nasceu no Brasil (no Rio de Janeiro) e não fala nenhuma outra língua além de português. Talvez algum dialeto indiano, mas com forte sotaque regional carioca. Por essa razão, nem mesmo na Índia, seus pares olhariam para você como igual. Seria um eterno alienígena social, buscando uma identidade impossível de ser definida em uma nacionalidade.

















Talvez ,com essa breve introdução, seja mais fácil explicar como é a vida dos centenas de milhares de turcos que vivem em Berlim e em toda Alemanha. Seus pais vieram, por convite, para trabalhar no período de 1950 ao fim da década seguinte, conhecido como Wirtschaftswunder (o milagre econômico alemão). Os acordos bilaterais com governos de nações próximas, principalmente depois do Muro de Berlim (1961), que diminuiu a migração de alemães orientais a uma escala próxima a zero, era uma necessidade. A total falta de mão de obra masculina, depois da guerra, foi uma das razões. Outra foi dificuldade de adaptação de outros povos convidados, como italianos (1955) e gregos (1960), que tinham total preferência do governo. Assim, em 1961 foi fechado o acordo que mudaria a vida da cidade para sempre. Mesmo com os acordos seguintes, em 1964 com Portugal e 1968 com Iugoslávia, o panorama dos imigrantes mudou muito pouco. Nenhum outro povo pareceu gostar tanto de Berlim como os turcos. Ou talvez a opção em sua pátria parecesse ainda pior, os motivos são irrelevantes nesse caso. O importante é que eles vieram e ficaram, deixando gerações subseqüentes de turco-alemães.













A maioria das famílias que chegaram não tinha intenção de ficar na Alemanha por um longo período. Os Gastarbeiter (como se denominavam os primeiros imigrantes) vieram, como muitos, com a clara intenção de juntar dinheiro para, em um curto espaço de tempo, voltar para a Turquia. O Período do contrato era de dois anos, para incentivar a vinda de novos imigrantes e dificultar a permanência. Infelizmente, para eles e suas famílias, a conjuntura política em seu pais de origem apenas piorou com o golpe militar. O que antes era provisório, virou permanente. Mesmo que para muitos tenha sido bom, pois com a ditadura inicia-se um período de estado laico, menos atrelado a religião muçulmana.



















Durante a década de 80, a primeira geração se consolidava. Além da busca pela identidade, outros problemas eram enfrentados diariamente pelos recém integrados. Os bairros mais próximos do muro e, por conseqüência, menos valorizados eram os escolhidos pelas famílias turcas. Jipes militares americanos rondavam as ruas do Kreuzberg. Nessa mesma época, filhos de primeira geração desses Gastarbeiter se reuniam em gangues. Uma das mais conhecidas eram os 36 Boys. Na década de 80 eles eram “apenas” 50, numero que cresceu para 200 nos dias atuais.













Nos anos 80, diferente do presente, os dias eram certamente mais duros. As preocupações não se resumiam a vender a coleção de roupas da grife 36 Boys, como os integrantes de hoje fazem. Entre as obrigações dos integrantes mais antigos estava o enfrentamento com as gangues de extrema-direita neonazistas que ocupavam o centro da cidade em Breitscheidplatz na Tauentzienstraße. Essa juventude branca anti-imigrantes, skinheads, era apenas mais uma das muitas formas da sociedade demonstrar sua insatisfação com a chegada dos convidados. Na verdade, a essa altura, não mais “Gastarbeiter”. Como filhos desses imigrantes, mas já nascidos na Alemanha, recebiam a denominação “Aufenthaltsberechtigung”, ou em bom português “direito de residência”. Assim, eram apenas uma minoria segregada, com diferenças educacionais e religiosas, buscando avidamente atingir um espaço melhor na pirâmide social.



Um claro exemplo é Killa Hakan. Hoje, um dos mais conhecidos MC Turcos de Berlim. Preso durante a juventude por assalto a mão armada e um dos fundadores dos 36 Boys, encontrou a redenção no RAP. Como em muitas comunidades negras nos EUA, a cultura Hip-Hop é a forma de expressão da minoria na Alemanha. Com a diferença das letras em turco. Minto, nem todos cantam na língua dos pais.

















Alpha Gun é outro clássico exemplo de segunda geração de “Gastarbeiter”. Nascido em Berlim, ele é para Shöneberg 30 o que Killa representa para o Kreuzberg. Essa área, delimitada pela Kunfürsterstraße, no norte, Grunewaldstraße, no sul, e S-Bahnhof Yorkstraße, no leste, foi onde cresceu Alpha. Considerado e aclamado o maior MC em língua alemã. Sua história não é muito diferente da de muitos outros filhos de imigrantes. Começou vendendo maconha para colegas de escola. Foi traficante até idade avançada quando conheceu o “rapper” alemão Sido, para quem vendia erva. Acabaram gravando algumas musicas juntos o que mudou o destino de Alpha.



Claro que não só a música que proporciona oportunidades para esses imigrantes. A educação é a principal redenção. Assim o governo investe na integração através da língua alemã e da história. As escolas estão mais preparadas para a terceira geração e o governo incentiva todos imigrantes e filhos a participarem de cursos de integração. Subsidiados pelo governo, eles são muitas vezes, a única opção para os estrangeiros aprenderem mais sobre o pais e, principalmente, a língua.

Através desse esforço, as diferenças que eram abissais, hoje, mesmo existindo, são menores. Bairros como o Kreuzberg, tipicamente turcos, hoje abrigam uma larga e crescente população de outros imigrantes, inclusive alemães. A terceira geração cresce em um ambiente mais globalizado e multicultural, diferente dos pais e avós que viviam na Turquia, mesmo dentro da Alemanha. Hoje, diferente das gerações anteriores, mesmo com a descendência turca, os filhos dos filhos já falam o alemão sem sotaque.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

adidas - Impossible Goalkeeper

Aqui vai uma descrição do projeto de construção e criação do Impossible Goalkeeper. Nos próximos meses publicaremos um website com todas as informações aqui contidas e um pouco mais. Essa é uma prévia apenas para os meus chegados.














Introdução

Durante os últimos meses encontrei-me envolvido em um projeto de proporções gigantescas. Nada semelhante a outros trabalhos que participei nesses meus 11 anos de propaganda, esse foi um aprendizado único. Quando cheguei em Berlim, no fim de agosto, um briefing já andava pela criação. O objetivo era bem específico: estender o conceito de adidas spetaculars para a Eurocopa. Para quem não sabe, esse foi o projeto mais vitorioso da TBWA/Berlin em sua história. Ajudando vocês a entenderem do que estou falando, vou aprofundar um pouco mais.

Durante a Copa do Mundo, aqui na Alemanha, foi criado o briefing de adidas Spetaculars. O objetivo era produzir ações de mídia exterior que não seguissem padrões convencionais. Desse esforço saíram duas peças. Uma era chamada Kahn e consistia em um modelo gigante do goleiro da seleção alemã, dando uma ponte sobre uma autobahn. O outro era denominado Fresco e nada mais era que uma pintura gigante no teto de Hauptbanhof (estação central). Elas, juntas e individualmente, ganharam todo o grand slam dos prêmios internacionais de propaganda.







Party on











Esse briefing, como falei, entrou na minha pauta em setembro do ano passado e a expectativa era muito grande. Tanto minha como da agência. Afinal era um trabalho que qualquer criativo gostaria de dedicar-se. O Emiliano me falou que antes de eu chegar, esse briefing já estava na pauta da criação por 6 meses e uma idéia já havia sido aprovada. Felizmente para mim, ainda existia a oportunidade de criar mais uma ou duas peças. O único problema é que não era só nossa dupla que estava na parada. Todo o departamento de criação recebeu a mesma tarefa.



A minha primeira participação no projeto foi em uma reunião. A equipe reuniu-se para receber um complemento do atendimento. Eles, junto com o cliente, iriam apresentar uma pesquisa de monumentos e edifícios austríacos e suíços. Tudo para facilitar nossa tarefa de encontrar uma solução diferente e inédita para mídia exterior. Na Suíça o problema estava praticamente resolvido, o desafio agora era na Áustria. Um dos pontos turisticos mais importantes, dos que nos foram passados, era a Riesenrad. Uma roda-gigante símbolo de Viena, construída a mais de 100 anos e muito querida pelos austríacos.



No nosso primeiro minuto de brainstorm, depois de recebermos esse complemento ao briefing, surgiu a idéia de construir um novo goleiro. Tudo começou quando começamos a discutir a funcionalidade da roda gigante. O fato dela girar ao redor de uma base fixa lembrava muito aqueles relógios antigos do Mickey. Poderíamos colocar o corpo do goleiro parado e os braços movendo-se ao redor dele. Junto com esse primeiro pensamento veio outro insigt. Pensamos em fazer representações de Deuses antigos, como por exemplo Shiva. No fim, o relógio do Mickey somado ao Deus Hindu de muitos braços, resultou na idéia que nomeamos Impossible Goalkeeper.






primeiro "rafe"









Pensamos em colocar uma enorme estrutura do corpo do goleiro na frente da roda gigante. Na parte circular, oito braços seriam fixados para girar. A impressão seria de um enorme goleiro de 60 metros de altura com vários braços. Quem conseguiria marcar um gol em um defensor com esses atributos? Nenhuma bola passaria pelo Impossible Goalkeeper.





Minha parede ficou assim por 6 meses.






Apresentamos a idéia internamente apenas em rough. Nada muito especial. Tenho que admitir que não perco muito tempo desenhando meus scribles. Em geral eles são bem simples, apenas o suficiente para passar minha intenção.

O nosso goleiro foi muito bem recebido e, em pouco tempo, ganhou um lugar especial no coração dos chefes. Diferente de nossos outros clientes, adidas sempre pede para ver as idéias em layout. Assim passamos para a execução da imagem. Não demorou para começarmos a encontrar as primeiras dúvidas e problemas. A primeira dela era quem seria nosso modelo.














Me lembrei que no meu time do Internacional no Winning Eleven o goleiro era o Petr Cech. Naquela época ele não tinha contrato com a adidas. Assim restavam outras duas opções. A primeira era Oliver Kahn, cujo problema era a atual aposentadoria da seleção Alemã. O segundo era o goleiro holandês, do Manchester United, Van Der Saar. Uma coisa que incomodava o cliente era a idade deles. Ambos eram relativamente velhos para as novas gerações. Apesar de eu, particularmente, discordar. Idade para goleiro só acrescenta. É comprovado que, o limite de idade para essa posição, costuma ser muito mais alto.














Marcamos o Layout com o Van der Saar. Inicialmente o numero de braços não era um grande dilema. Acabamos por optar construir a imagem com 6 braços, depois discutiríamos o numero mais apropriado. Entregamos a apresentação de Power Point na mão do atendimento com os dedos cruzados.

No dia seguinte, recebemos a boa notícia, após a reunião de apresentação: o cliente havia adorado a idéia. Daquele momento em diante a adidas, junto com a agência, fariam o possível para viabilizar a projeto. Entre esses desafios estava comprar o direito de usar a roda gigante junto a prefeitura de Viena. Algo que não seria fácil. Como símbolo da cidade, ela jamais havia sido usada como plataforma de mídia.


Negociação

Nos meses seguintes, algumas ações burocráticas eram necessárias. Como já falei anteriormente, a primeira delas era junto a prefeitura de Viena. A outra, não tão complicada, era encontrar e negociar um contrato de imagem com um grande goleiro.




foto original da construção da roda.







A Riesenrad fica numa região histórica de Viena denominada Prater. Ela tem esse nome pois em 1162 o imperador Frederico I deu a área para um nobre chamado Prato. A roda gigante, por sua vez, só foi construída em 1897 para comemorar o qüinquagésimo aniversário do imperador Franz Joseph I. Hoje ela continua sendo uma das principais atrações de Viena. Além de ser a única roda gigante, em seu estilo, ainda em funcionamento no mundo.





Tamanho é documento.


Como propriedade da prefeitura, alguns detalhes deveriam ser acertados. O primeiro deles era sobre o espaço em si. Perguntas, como quanto da roda poderíamos usar ou quanto pagar, eram fundamentais. Não que a adiadas não estivesse preparada para desembolsar uma boa grana. Isso estava no planejamento. O problema seria se esse custo fosse muito fora da média de mercado. O segundo detalhe eram as necessidades estruturais. Uma roda gigante de 150 anos suportaria o peso de nosso goleiro?



Não tínhamos as respostas e elas eram necessárias. Assim engenheiros e profissionais de mídia foram convocados em um esforço de esclarecer todos os pontos em aberto.

Como havíamos previsto, o preço do espaço (como mídia) não foi nosso maior problema. O que acabou atrasando um pouco as negociações foi um pedido da prefeitura. Eles queriam que o corpo do goleiro fosse construído a 15 metros da roda gigante. Isso significaria que os braços, em uma vista lateral, ficariam completamente separado do conjunto. Esse era um aspecto impeditivo para a realização de todo o projeto. Felizmente conseguimos resolver. Tudo graças a uma informação que fazia parte de nossa questão estrutural inicial. Aqui os mídias abriram espaço para os engenheiros alemães.

A maior desculpa da prefeitura, para construir nosso goleiro tão afastado, era saber se a roda suportaria nosso colosso. Para descobrirmos a resposta e elaborarmos a defesa do projeto, recorremos a história. Descobrimos que, inicialmente, a Riesenrad tinha 30 gôndolas. Quantidade essa que fora reduzida a 15, nos anos seguintes. Em outras palavras, a roda tinha capacidade inicial para o dobro do peso atual. A idéia estava preservada e o Impossible Goalkeeper tinha autorização dos engenheiros para sair do papel. Com essa informação na mão, ficou fácil reverter a idéia da prefeitura.





Esquema estrutural da roda.






Enquanto trabalhávamos na Riesenrad, em uma ação muito inteligente, a adidas fechou um contrato com Petr Cech. Curiosamente, a primeira opção de goleiro chegou até nossas mãos sem que necessitássemos pedir por sua contratação. Ele agregava todos os atributos necessários para nossa idéia. Petr é um goleiro carismático, joga em um grande clube e também tem uma história única. Isso sem falar em seus atributos que o transformaram no melhor jogador da posição em toda Europa. Minha esposa também acha ele um cara muito bonito, o que me fez quase reconsiderar sua escolha como modelo. Brincadeiras a parte, é claro que sua beleza também era ótimo para nosso projeto.



Petr Cech

O goleiro do Chelsea e da República Tcheca é uma figura muito carismática. Com 26 anos de idade, foi considerado o melhor goleiro da UEFA Champions League nos anos de 2004-2005 e 2006-2007. Atualmente detém 3 recordes. Entre esses estão o da liga tcheca com 855 minutos seguidos sem levar gol, e o da liga inglesa com 1025 minutos seguidos sem sofrer gols.



Em 14 de outubro de 2006 ocorreu sua lesão mais grave. Em uma disputa de bola com Stephen Hunt acabou chocando a cabeça com o joelho do adversário. Levado para o hospital ficou constatada uma lesão no osso do crânio. Lesão essa que quase custou sua vida. Acometido por dores de cabeças muito fortes acabou ficando um bom tempo fora dos gramados. O alerta medico era que um retorno prematuro poderia custar a vida do jogador.



Esse foi um dos estudos de tratamento de imagem para o projeto. Achei muito artificial, assim acabamos optando por algo mais natural e menos publicitário.











Devido a esse problema, Petr Cech hoje é obrigado a usar um capacete de proteção semelhante aos de jogadores de rugby, em todos os jogos. Sua proteção foi contruida exclusivamente pela Centerbury New Zealand, especializada em rugby, e é reforçado nas áreas mais sencíveis de sua cabeça. O capacete acabou virando marca registrada de Petr e tamém um forte ícone de seu marketing pessoal.



O fotógrafo

Algumas características seriam fundamentais na escolha do nosso fotógrafo. Entre os atributos necessários estariam um bom manejo de estrelas do futebol e um bom trabalho com esportistas.

Alguns fotógrafos foram selecionados e um pequeno briefing foi preparado para avaliação do orçamento. Depois de algumas discussões internas acabamos optando por Sebastian Hänel. Ele já havia feito um excelente trabalho para o espetaculas anterior e sabia muito bem lidar com estrelas.

Para termos um guia mais detalhado e documentado de nossas necessidades elaboramos um briefing ainda mais detalhado. Foi com base nele que Sebastian elaborou a solução fotográfica mais apropriada. Nada de uma luz muito marcante ou dura. Apesar de ser mais bonita e dramática, poderia trazer problemas quanto a naturalidade da peça. Achávamos que poderia ficar estranho em um dia nublado uma sombra equivalente ao meio-dia.















Um outro problema que tivemos que resolver foi com as mãos do goleiro. Como elas ficavam coladas na roda gigante, ao completar meia volta, ficariam invertidas. Isso traria um aspecto de braço quebrado para nosso projeto. Algo que não queríamos de forma alguma. A solução encontrada foi fotografar e modelar a mão, de forma que ela ficasse em um meio termo. Ela seria, olhando próximo, muito estranha. A questão é que no conjunto não se perceberia esse blefe. O segredo estava em construir o dedão e o dedo mindinho muito parecidos em tamanho e forma. Dessa maneira, quando a mão estivesse de cabeça para baixo, não pareceria que Petr tinha um problema genético. Ainda mais sendo as luvas de goleiro tão grossas, o que esconderia ainda mais a trucagem.

Estudo de como seriam as mãos. Aposto que você não tinha notado que elas eram bizarras antes de eu falar.





Briefing fotógrafo

Vou colocar aqui o briefing oficial do projeto. Apenas por esse motivo ele está em inglês.

The „crouching“ position

Our friends at MoveIt Media calculated the ideal height where the center of his chest has to be, in order to make the whole thing proportional. Martina will send the exact data, but it should be somewhere between 1,14 and 1,28 meters. We might need a couple of shots in different heights, just to be safe.


The gloves

Here, the important thing is to make his hands to be seen from a frontal angle, wide open, in a way that all 5 fingers are almost identical, equally separated and symmetrical. This is important because, when the giant wheel spins, the hands (and arms) will be shown upside down, so we don’t want them to look strange.


The arms

This one is a bit tricky. For the same reasons mentioned above, we need the arms to be completely straight, in a perfect 180° angle. Also, considering the jerseys we have received from adidas, we should turn the three stripes on the sleeves to the back of the arm, they shouldn’t be visible, so they won’t look weird when seen upside down. We can also do some variations of the way the sleeve is creased or pulled up, so the 8 arms don’t look like exact copies of each other.


The shoulders

Here we should just take care that we have one shot where the two shoulders are horizontal and aligned. Since this part will not be spinning, we can show some adidas stripes from the jersey.

The feet

This one is easy. When seen from the front, the shoes look a bit strange. So we should place his feet a bit open, but still in a natural position, not „staged“.


The Space Between his legs

Our task was to find a way to cover the arm, of Petr Cech, when it spins between his legs.

The solution the agency presented was to complete this area with a background image. The image we chose is an exact copy of the real background we have in the location. In other words, we will try to copy what “would be” between his legs for real. So what we need is an image of the wheel and surroundings. To make this look as natural as possible, there is a couple of things we have to take care.

1) Light: The light can’t be very hard. It must be as neutral as possible. We have to keep in mind the photo should not show a specific time of the day.

2) Distance: Our photo must be taken from a bit far away, to keep an angle that “matches” the image: the big goalkeeper is meant to be seen from distance. We need an image with no distortions. A perfect landscape to fit as much as possible with the real background.

3) Photos: Will be great to have some photos with the full giant wheel to understand the environment. As well as photos of some greens (trees) from the area. This will help us to hide a bit the sky if necessary.

4) Side: just to make sure we capture the right side of the wheel: the picture should be taken from the big green area, opposite to the amusement park. The goalkeeper will be facing this green area.


Shoe

The second task is to change the shoe Petr Cech is using in the base photo.
For that, there are two important things to respect in this work.

1) Light: The light must be as close as possible to the base photo.

2) Feet position: respect the angle from the base photo.



Shooting em Londres

Acabamos, por questões de logística, optando por fotografar o goleiro em Londres. Para tanto, escolhemos um estúdio nas proximidades do estádio do Chelsea. Todo o tempo com esses astros deve ser planejado e bem aproveitado.





Meu brother. Falou que vai pegar o lugar do Clemer no centenário colorado.






Quando ainda preparava minha mala para embarcar para a capital dos bretões, recebi uma notícia assustadora. Em um treino, Petr havia se lesionado. Ainda não sabíamos da gravidade, apenas a região do machucado: tornozelo. Quem joga bola sabe o quanto uma lesão de tornozelo pode ser perigosa. Existia a possibilidade de ele não jogar a EURO. Na melhor das hipóteses, teríamos que fotografá-lo com uma tala na perna. Esperei pela resposta um pouco nervoso. No fim do dia chegou a notícia que eu poderia embarcar, na manhã seguinte, sem problemas. O nosso goleiro tinha tanto interesse em participar que aceitaria submeter-se a penosa sessão de fotos, mesmo com o tornozelo inchado. Graças a Deus a lesão também não era grave o suficiente para afasta-lo do campeonato europeu de seleções.

Assim, cheguei em Londres e não tive tempo de relaxar. Peguei um Black Cab para o estúdio, logo após deixar minhas coisa no hotel. O lugar era bem naquele esquema europeu. Aqui, diferente do Brasil, onde os equipamentos são todos dos fotógrafos, aluga-se tudo. Muito profissional e organizado, diga-se de passagem. Minha chegada já era esperada e os primeiros testes de luz já haviam sido feitos. Em um canto do estúdio estava uma maquete de um metro e meio da roda-gigante. Ela seria usada como base para entendermos melhor como posicionar nosso goleiro.


passa Gelol e vai para o jogo













O estúdio estava cheio. Além de uma equipe de TV, que preparava o making off de nossas fotos, alguns jornalistas tchecos esperavam pelo fim de nosso trabalho para começar o deles. Todos queriam saber mais sobre a gravidade da lesão que havia prejudicado o principal jogador da seleção tcheca.

Petr chegou 2 horas depois de mim. Muito bem humorado, carregava uma maleta de fisioterapia que servia para esfriar seu tornozelo nos intervalos das seções de fotos. Pedimos para ele colocar o uniforme que escolhemos e esperamos pelos primeiros testes que Sebastian iria fazer. Como o ambiente estava cheio de pessoas, fiquei um pouco preocupado com o resultado. Fui para um cantinho do estúdio e montei minha estação de trabalho. Falei para o fotografo que não ficaria em volta dele. Quando ele tivesse algo para dividir bastava chamar-me. Ele respondeu que não haveriam problemas. As pessoas chave estariam bem informadas sobre o andamento das fotos.

Foi em uma dessas oportunidade que conheci pessoalmente o goleiro com quem trabalhei por tantos meses. Um cara muito simpático, educado e humilde. Impressionante, poderia dizer. Ainda mais levando-se em conta as dificuldades que meus colegas tiveram com Oliver Kahn, no ano anterior.

Um fato curioso foi quando Sebastian e o cliente começaram a falar alemão comigo. Respondi que infelizmente era o único brasileiro no set, mesmo representando uma agencia alemã. Alguns segundos depois escutei alguém me chamando em português: “Olá, tudo bom?” Quando voltei-me em direção ao interlocutor encontrei Petr rindo. Perguntei em português: “Você fala português?” Ele respondeu: “Um pouquinho”. Muito engraçado. Claro que a conversa não foi muito longe na minha língua materna. Ele estava apenas sendo atencioso e educado. Continuei nosso dialogo em inglês, que era melhor para ambos. Ele falou que aprendeu um pouco da língua de Camões com seu ex-técnico José Mourinho e com outros jogadores da equipe. Nesse mundo do futebol o português é muito falado, pensei eu.

Foram 5 horas de fotos. Todas na mesma posição, com variação na expressão e com alguns detalhes de corpo. Pedi para que tudo fosse salvo em meu computador também. Assim podia ir imaginando como resolveria alguns problemas futuros. O menor deles, seria substituir o pé imobilizado, durante a pós-produção.

No dia seguinte, acordei antes do galo cantar para pegar o primeiro vôo de Heatrow em direção a Berlim. Fiquei com uma boa impressão do trabalho. No fim, acreditava que tínhamos o necessário para iniciarmos o processo de tratamento de imagem.



Pós-produção

Preparei o briefing de pós-produção no dia seguinte ao meu retorno. Pensei que era importante montar algo bem organizado e bonito. Aqui em Berlim a tradição de tratamento de imagem é muito fraca. Na minha opinião, mesmo com uma baita escola de propaganda para carros, a media de qualidade do photoshop dos caras é bem baixa. Isso não só dos profissionais de produção, mas dos designers e diretores de arte em geral. Claro que isso se reflete em todos os degraus da escada de execução.


Legal comentar que esse é meu briefing de tratamento de imagem. Eu preparei esse esquema para facilitar a vida dos caras. Aqui tudo é oficial e organizado.









Começamos a montagem um mês após as fotos. O cliente segurou ao máximo a liberação da verba pois aguardava um relatório final dos engenheiros. Existia uma discussão sobre o que colocaríamos entre as pernas do nosso goleiro. Era um debate válido. Existia uma impossibilidade técnica para deixar o espaço vazado.






E esse é o briefing para o meio das pernas.









Foram algumas semanas procurando uma solução para esse problema. Mandamos uma dúzia de opções para o cliente antes de aprovarmos a versão final. Os caras da adidas insistiam que, o espaço entre as pernas do goleiro, deveria integrar o conceito da marca de forma natural. Nossa última opção foi fotografar a área em Viena e aplicar uma foto exata da fachada da roda gigante. Depois introduzimos na foto o conceito “impossible is nothing” como se fosse o titulo da atração. O resultado ficou muito bom e o mérito, em grande parte, foi do cliente que encheu nosso saco.






Briefing para o meio das pernas.










O próximo problema era um pouco mais grave. Segundo a empresa que iria tratar nossas imagens, a resolução das fotos do Sebastian não tinham a qualidade necessária para imprimir naquela proporção. Os caras pediam uma imagem com resolução de 50 dpi no formato original. Isso seria um arquivo fechado de 21 Gb. Uma resolução que câmera digital alguma no mundo tinha. Observei o resultado final de outros projetos da agencia fotografados em cromo e, mesmo os maiores formatos, não apresentavam qualidade superior as nossas fotos. Em todo caso, só para garantir, agendamos uma sessão de fotos com um modelo de corpo. Pedi para fotografar em máxima resolução cada detalhe. Mesmo assim, poderíamos ter problemas com a cabeça, já que não teria como fotografar novamente. Outra coisa que irritava-me era o fato de em 180 fotos, apenas uma estava no clima de expressão que eu gostaria. Achava complicado chegar no mesmo resultado se fosse necessário fotografar novamente Petr.


Até os braços foram estudados em detalhes. No Brasil da tempo para um estudo desses?




Dormi com esse problema. Depois da nova sessão com o dublê de corpo deveria decidir o que fazer. Substituir o corpo do cara ou manter o antigo. Infelizmente não gostei da posição que estava o dublê nessas novas fotos. Ele não conseguia ficar, nem de perto, numa posição agressiva e realista, como um goleiro profissional. O tempo estava correndo e precisávamos decidir rápido. Assumir a bronca das imagens em resolução inferior ou substituir pelas novas.



Como esconder a estrutura da roda e mater as proporções? Planejando.










Sentei com o Emiliano e um dos diretores de criação para bater o martelo. Ficamos com a seguinte opção. As partes que ficavam próximas da visão do público seriam substituídas pelas novas fotos, o resto seriam as antigas. Braços, pernas e chuteira na resolução máxima. O tronco e a cabeça ficaria numa distancia tão longa que seria difícil avaliar a resolução.


Primeira imagem do tratamento de imagem. Cintura ainda muito alta. Mais umas 10 horas de trabalho. Quem mandou mudar o que não devia?





Depois de umas 2 semanas recebemos o retorno da gráfica. A imagem que enviamos estava em um tamanho tão grande que a impressora travava a cada tentativa de impressão. No fim das contas acabamos sendo obrigados a diminuir o arquivo em 10x. Pelo que entendi, acabamos nos estressando muito sem necessidade.






Esquemas dos engenheiros de como montar a estrutura de metal.








Impressão

A máquina que imprimiu o nosso goleiro não era das mais modernas. Mandamos os arquivos para uma gráfica em Colônia. Nos primeiros testes, apenas a calibragem não estava boa. Em contra partida, a qualidade final era bem legal. Fui acompanhar as últimas provas na saída da impressora. Parecia uma daquelas matriciais coloridas antigas. A diferença é que ela é do tamanho de uma kombi. Os caras me explicaram que a máquina já tinha 18 anos, mas continuava muito boa. O resultado, depois da calibragem, não deixava dúvidas que ela segurava a onda.


















Tudo era impresso em um papel plástico adesivo. Ela imprimia rolos com um diâmetro de 2 metros que eram dispostos lado a lado durante a colagem. Essas faixas seriam fixadas em placas de aço presas a uma estrutura. O acabamento e recortes eram feitos, no fim, com uma pistola de ar-comprimido que furava o metal como manteiga.















Ainda sobre a impressão, ela era aquela típica de “billboard”. Numa distancia pequena, conseguia-se ver o grão grande da imagem. Como ela devia ficar a uma distância respeitável do público, não existia problema.
Um fato curioso era que, para avaliar as provas de impressão, abríamos as imagens no pátio interno do prédio (no primeiro andar) e subíamos até o quarto andar para olhar.


Montagem

O processo de montagem levou 2 semanas e só poderia ser executado à noite. Durante o dia, a roda-gigante ficava aberta para os turistas que não entendiam o que estava acontecendo. 7 containers foram estacionados em uma área da Prater onde foi organizado um quartel general.








Colagem.









A primeira providência foi a construção da estrutura onde ficariam presas as chapas de metal que futuramente receberia a impressão adesiva. Tudo segue uma padronização estilo LEGO. Parece até fácil de montar levando-se em conta os encaixes perfeitos que cada barra de metal tinha. A diferença era que, no fim, tudo era soldado. Não poderia existir possibilidade de alguma dessas estruturas desprenderem-se e vir a cair na cabeça de um turista desavisado.




Durante a noite o bichão fica muito mais fudido.







Depois dessa primeira etapa, iniciava-se a colagem. Uma equipe de profissionais era encarregada desse serviço. Diferente dos “billboards” normais onde essa etapa é feita sem maiores cuidados, aqui existia a necessidade de uma precisão cirúrgica. Se a colagem do rosto ficasse com uma aparência meio Picasso, não teria sentido a escolha de um goleiro famoso para o projeto. Por sinal, eles começaram justamente pela cabeça e depois desceram gradualmente até os pés. O recorte das extremidades era feito com uma pistola de ar-comprimido, como já mencionei, e o acabamento ficou excelente. Acho que um fator que facilitou muito esse processo, foi Petr usar o tradicional capacete nas fotos. Com ele, evitamos o mais difícil na tarefa de recorte: delinear o cabelo.






Cola direito essa porra!











Os braços, por sua vez, foram um capítulo a parte. Devido a quantidade de raios da roda gigante, eles não poderiam ser instalados eqüidistantes. Alguns teriam uma diferença menor entre si. Eram 30 raios de cabo de aço para 8 braços. Basta fazer a conta matemática para entender que seria impossível manter os mesmos com a mesma distancia entre si. Outro fator importante era que, a montagem deles foi feita por uma equipe de manutenção da própria roda-gigante. Ninguém permitiria que profissionais não especializados sequer encostasse na estrutura principal.



Tudo pronto. Só apertar o botão.










Um detalhe interessante era que o braço era montado sobre placas móveis. Isso era necessário pois toda a estrutura de cabos onde eles foram apoiadas se movia. Se eles fossem fixos quebrariam com facilidade.














Felizmente, tudo ficou pronto um dia antes do prazo estimado. Com a engenharia alemã girando em favor da propaganda, não tinha muito o que dar errado. Bom, no fim acabou dando um probleminha sim. A estrutura ficou 60 cm mais alta do que havíamos calculado. Assim imprimimos uma pequena faixa preta onde as chuteiras ficariam apoiadas. Vale lembrar que num gigante de 60 metros, 60cm equivalem a 0,01% da altura total. Absolutamente perdoável.




Lançamento

Um dia antes da abertura da Eurocopa foi organizado um grande evento para o lançamento do nosso goleiro. Jornalistas de todo o mundo foram convidados. Tudo precisava estar perfeito. Preparamos diversos pontos de onde os jornalistas poderiam tirar fotos. O primeiro um enorme palco onde, durante os jogos, passarão as partidas de frente para o goleiro. Uma grua de 20 metros também foi alugada para elevar a galera e incentivar a conseguir fotos mais legais. Por fim, quando a noite caiu, todos poderiam subir no topo de um prédio de 30 andares próximo a Prater para pegar um ângulo ainda mais interessantes.
































Alem disso um coquetel com tudo que se tem direito e entrevista coletiva estava na agenda. Representantes da adidas, TBWA/Berlim e 180/TBWA deveriam responder questões elaboradas pelos jornalistas. Ainda bem que essa tarefa não ficou sob minha tutela. Eu certamente amarelaria na frente de tantos flashes.



















Criatura e criador.









Um kit foi dado a todos os jornalistas. Entre esses presentinhos colocamos um cartão postal com um trifásico que fazia os braços do goleiro girar. Por sinal, esse brinde fez tanto sucesso que outros milhares foram impressos, para serem vendidos como cartões postais da cidade de Viena.




Uma pequena amostra do buzz.








A inauguração teve um pequeno mico. Mas nada que assustasse ou abalasse meu otimismo. Uma contagem regressiva foi puxada pelo apresentador. No exato instante que falaram zero, o presidente da adidas e um jogador da seleção da Áustria apertaram um botão vermelho. O pano que cobria o goleiro deveria cair imediatamente. Mas apenas 10 segundos depois que lentamente uma equipe começou a desprender-se. O mecanismo falhou! Sem problemas, pois não demorou nem um minuto.




Ações paralelas

Uma coisa que é muito diferente do Brasil é como os europeus sabem “dourar a pílula”. Nada vai sozinho e órfão para rua. Um projeto grande vem acompanhado de várias outras ações paralelas que fazem tudo repercutir ainda mais.


















O trabalho apenas começa com a inauguração.






A primeira e mais simples eu já comentei. Fizemos cartões postais trifásicos, daqueles estilo as réguas de tabuada de 20 anos atrás. Eu estava com medo de que ficasse muito simples e feio mas colocar a roda para girar no papel foi uma idéia muito boa. O efeito ficou muito legal





A segunda ação foi um pouco mais complicada. Imprimimos adesivos eletrostáticos transparentes de 2 tamanhos diferentes. Fizemos isso para “seqüestrar” sinais de trânsito e de metrô que indicavam a direção da roda-gigante. Colava-mos o adesivo com o outline do goleiro exatamente em cima. Espalhamos por toda a cidade e em especial na estação e nas proximidades da Prater. Como os adesivos eram eletrostáticos não poderíamos ser presos por vandalismo.



Outra idéia simples e de efeito foi o carimbo com a silhueta do Petr. Esse colocamos em alguns lugares estratégicos. Na recepção do hotel, servia para carimbar os mapas da cidade e de metrô, indicando onde era a roda-gigante. Na Prater, servia para marcar os ingressos das pessoas, indicando que já foram usados e não valiam mais. Também usamos para carimbar a criançada que achava legal ter uma “tatuagem” do Impossible Goalkeeper.


Fotos de divulgação

Isso não tem muito como manter o controle. Organizamos, durante o evento de divulgação, algumas oportunidade fotográficas para os fotógrafos. A primeira delas era em um palco em frente a roda gigante.





Só trocamos o céu e demos uma puxada nas cores. O gigante ficou bonito para a foto de PR.




Um pouco mais afastado, ficava uma grua de 20 metros. A posição correta dela foi organizada pelo Emiliano que indicou perfeitamente o local onde tinha a melhor vista. Por sinal, o fotografo oficial da agência do evento foi ele mesmo.














A terceira posição para fotos era um escritório no alto de um prédio. Um ônibus esperava os jornalistas interessados e levava-os para esse edifício. Desse local foram tiradas as melhores fotos noturnas do goleirão.

Um dos motivos de toda essa atenção foi a necessidade de ajudarmos os jornalistas a encontrarem o melhor ângulo para a foto. Existem muitas árvores no parque, o que não é problema quando olhamos a 500 metros. Agora de dentro da Prater, alguns ângulos não favoreciam tanto. Mesmo com todas essas opções não temos como segurar o mal gosto de alguns fotógrafos e nem o céu nublado. Em todo caso, em quase sua totalidade, as fotos ficaram muito boas.