quinta-feira, 2 de outubro de 2008

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

adidas - Impossible Goalkeeper

Aqui vai uma descrição do projeto de construção e criação do Impossible Goalkeeper. Nos próximos meses publicaremos um website com todas as informações aqui contidas e um pouco mais. Essa é uma prévia apenas para os meus chegados.














Introdução

Durante os últimos meses encontrei-me envolvido em um projeto de proporções gigantescas. Nada semelhante a outros trabalhos que participei nesses meus 11 anos de propaganda, esse foi um aprendizado único. Quando cheguei em Berlim, no fim de agosto, um briefing já andava pela criação. O objetivo era bem específico: estender o conceito de adidas spetaculars para a Eurocopa. Para quem não sabe, esse foi o projeto mais vitorioso da TBWA/Berlin em sua história. Ajudando vocês a entenderem do que estou falando, vou aprofundar um pouco mais.

Durante a Copa do Mundo, aqui na Alemanha, foi criado o briefing de adidas Spetaculars. O objetivo era produzir ações de mídia exterior que não seguissem padrões convencionais. Desse esforço saíram duas peças. Uma era chamada Kahn e consistia em um modelo gigante do goleiro da seleção alemã, dando uma ponte sobre uma autobahn. O outro era denominado Fresco e nada mais era que uma pintura gigante no teto de Hauptbanhof (estação central). Elas, juntas e individualmente, ganharam todo o grand slam dos prêmios internacionais de propaganda.







Party on











Esse briefing, como falei, entrou na minha pauta em setembro do ano passado e a expectativa era muito grande. Tanto minha como da agência. Afinal era um trabalho que qualquer criativo gostaria de dedicar-se. O Emiliano me falou que antes de eu chegar, esse briefing já estava na pauta da criação por 6 meses e uma idéia já havia sido aprovada. Felizmente para mim, ainda existia a oportunidade de criar mais uma ou duas peças. O único problema é que não era só nossa dupla que estava na parada. Todo o departamento de criação recebeu a mesma tarefa.



A minha primeira participação no projeto foi em uma reunião. A equipe reuniu-se para receber um complemento do atendimento. Eles, junto com o cliente, iriam apresentar uma pesquisa de monumentos e edifícios austríacos e suíços. Tudo para facilitar nossa tarefa de encontrar uma solução diferente e inédita para mídia exterior. Na Suíça o problema estava praticamente resolvido, o desafio agora era na Áustria. Um dos pontos turisticos mais importantes, dos que nos foram passados, era a Riesenrad. Uma roda-gigante símbolo de Viena, construída a mais de 100 anos e muito querida pelos austríacos.



No nosso primeiro minuto de brainstorm, depois de recebermos esse complemento ao briefing, surgiu a idéia de construir um novo goleiro. Tudo começou quando começamos a discutir a funcionalidade da roda gigante. O fato dela girar ao redor de uma base fixa lembrava muito aqueles relógios antigos do Mickey. Poderíamos colocar o corpo do goleiro parado e os braços movendo-se ao redor dele. Junto com esse primeiro pensamento veio outro insigt. Pensamos em fazer representações de Deuses antigos, como por exemplo Shiva. No fim, o relógio do Mickey somado ao Deus Hindu de muitos braços, resultou na idéia que nomeamos Impossible Goalkeeper.






primeiro "rafe"









Pensamos em colocar uma enorme estrutura do corpo do goleiro na frente da roda gigante. Na parte circular, oito braços seriam fixados para girar. A impressão seria de um enorme goleiro de 60 metros de altura com vários braços. Quem conseguiria marcar um gol em um defensor com esses atributos? Nenhuma bola passaria pelo Impossible Goalkeeper.





Minha parede ficou assim por 6 meses.






Apresentamos a idéia internamente apenas em rough. Nada muito especial. Tenho que admitir que não perco muito tempo desenhando meus scribles. Em geral eles são bem simples, apenas o suficiente para passar minha intenção.

O nosso goleiro foi muito bem recebido e, em pouco tempo, ganhou um lugar especial no coração dos chefes. Diferente de nossos outros clientes, adidas sempre pede para ver as idéias em layout. Assim passamos para a execução da imagem. Não demorou para começarmos a encontrar as primeiras dúvidas e problemas. A primeira dela era quem seria nosso modelo.














Me lembrei que no meu time do Internacional no Winning Eleven o goleiro era o Petr Cech. Naquela época ele não tinha contrato com a adidas. Assim restavam outras duas opções. A primeira era Oliver Kahn, cujo problema era a atual aposentadoria da seleção Alemã. O segundo era o goleiro holandês, do Manchester United, Van Der Saar. Uma coisa que incomodava o cliente era a idade deles. Ambos eram relativamente velhos para as novas gerações. Apesar de eu, particularmente, discordar. Idade para goleiro só acrescenta. É comprovado que, o limite de idade para essa posição, costuma ser muito mais alto.














Marcamos o Layout com o Van der Saar. Inicialmente o numero de braços não era um grande dilema. Acabamos por optar construir a imagem com 6 braços, depois discutiríamos o numero mais apropriado. Entregamos a apresentação de Power Point na mão do atendimento com os dedos cruzados.

No dia seguinte, recebemos a boa notícia, após a reunião de apresentação: o cliente havia adorado a idéia. Daquele momento em diante a adidas, junto com a agência, fariam o possível para viabilizar a projeto. Entre esses desafios estava comprar o direito de usar a roda gigante junto a prefeitura de Viena. Algo que não seria fácil. Como símbolo da cidade, ela jamais havia sido usada como plataforma de mídia.


Negociação

Nos meses seguintes, algumas ações burocráticas eram necessárias. Como já falei anteriormente, a primeira delas era junto a prefeitura de Viena. A outra, não tão complicada, era encontrar e negociar um contrato de imagem com um grande goleiro.




foto original da construção da roda.







A Riesenrad fica numa região histórica de Viena denominada Prater. Ela tem esse nome pois em 1162 o imperador Frederico I deu a área para um nobre chamado Prato. A roda gigante, por sua vez, só foi construída em 1897 para comemorar o qüinquagésimo aniversário do imperador Franz Joseph I. Hoje ela continua sendo uma das principais atrações de Viena. Além de ser a única roda gigante, em seu estilo, ainda em funcionamento no mundo.





Tamanho é documento.


Como propriedade da prefeitura, alguns detalhes deveriam ser acertados. O primeiro deles era sobre o espaço em si. Perguntas, como quanto da roda poderíamos usar ou quanto pagar, eram fundamentais. Não que a adiadas não estivesse preparada para desembolsar uma boa grana. Isso estava no planejamento. O problema seria se esse custo fosse muito fora da média de mercado. O segundo detalhe eram as necessidades estruturais. Uma roda gigante de 150 anos suportaria o peso de nosso goleiro?



Não tínhamos as respostas e elas eram necessárias. Assim engenheiros e profissionais de mídia foram convocados em um esforço de esclarecer todos os pontos em aberto.

Como havíamos previsto, o preço do espaço (como mídia) não foi nosso maior problema. O que acabou atrasando um pouco as negociações foi um pedido da prefeitura. Eles queriam que o corpo do goleiro fosse construído a 15 metros da roda gigante. Isso significaria que os braços, em uma vista lateral, ficariam completamente separado do conjunto. Esse era um aspecto impeditivo para a realização de todo o projeto. Felizmente conseguimos resolver. Tudo graças a uma informação que fazia parte de nossa questão estrutural inicial. Aqui os mídias abriram espaço para os engenheiros alemães.

A maior desculpa da prefeitura, para construir nosso goleiro tão afastado, era saber se a roda suportaria nosso colosso. Para descobrirmos a resposta e elaborarmos a defesa do projeto, recorremos a história. Descobrimos que, inicialmente, a Riesenrad tinha 30 gôndolas. Quantidade essa que fora reduzida a 15, nos anos seguintes. Em outras palavras, a roda tinha capacidade inicial para o dobro do peso atual. A idéia estava preservada e o Impossible Goalkeeper tinha autorização dos engenheiros para sair do papel. Com essa informação na mão, ficou fácil reverter a idéia da prefeitura.





Esquema estrutural da roda.






Enquanto trabalhávamos na Riesenrad, em uma ação muito inteligente, a adidas fechou um contrato com Petr Cech. Curiosamente, a primeira opção de goleiro chegou até nossas mãos sem que necessitássemos pedir por sua contratação. Ele agregava todos os atributos necessários para nossa idéia. Petr é um goleiro carismático, joga em um grande clube e também tem uma história única. Isso sem falar em seus atributos que o transformaram no melhor jogador da posição em toda Europa. Minha esposa também acha ele um cara muito bonito, o que me fez quase reconsiderar sua escolha como modelo. Brincadeiras a parte, é claro que sua beleza também era ótimo para nosso projeto.



Petr Cech

O goleiro do Chelsea e da República Tcheca é uma figura muito carismática. Com 26 anos de idade, foi considerado o melhor goleiro da UEFA Champions League nos anos de 2004-2005 e 2006-2007. Atualmente detém 3 recordes. Entre esses estão o da liga tcheca com 855 minutos seguidos sem levar gol, e o da liga inglesa com 1025 minutos seguidos sem sofrer gols.



Em 14 de outubro de 2006 ocorreu sua lesão mais grave. Em uma disputa de bola com Stephen Hunt acabou chocando a cabeça com o joelho do adversário. Levado para o hospital ficou constatada uma lesão no osso do crânio. Lesão essa que quase custou sua vida. Acometido por dores de cabeças muito fortes acabou ficando um bom tempo fora dos gramados. O alerta medico era que um retorno prematuro poderia custar a vida do jogador.



Esse foi um dos estudos de tratamento de imagem para o projeto. Achei muito artificial, assim acabamos optando por algo mais natural e menos publicitário.











Devido a esse problema, Petr Cech hoje é obrigado a usar um capacete de proteção semelhante aos de jogadores de rugby, em todos os jogos. Sua proteção foi contruida exclusivamente pela Centerbury New Zealand, especializada em rugby, e é reforçado nas áreas mais sencíveis de sua cabeça. O capacete acabou virando marca registrada de Petr e tamém um forte ícone de seu marketing pessoal.



O fotógrafo

Algumas características seriam fundamentais na escolha do nosso fotógrafo. Entre os atributos necessários estariam um bom manejo de estrelas do futebol e um bom trabalho com esportistas.

Alguns fotógrafos foram selecionados e um pequeno briefing foi preparado para avaliação do orçamento. Depois de algumas discussões internas acabamos optando por Sebastian Hänel. Ele já havia feito um excelente trabalho para o espetaculas anterior e sabia muito bem lidar com estrelas.

Para termos um guia mais detalhado e documentado de nossas necessidades elaboramos um briefing ainda mais detalhado. Foi com base nele que Sebastian elaborou a solução fotográfica mais apropriada. Nada de uma luz muito marcante ou dura. Apesar de ser mais bonita e dramática, poderia trazer problemas quanto a naturalidade da peça. Achávamos que poderia ficar estranho em um dia nublado uma sombra equivalente ao meio-dia.















Um outro problema que tivemos que resolver foi com as mãos do goleiro. Como elas ficavam coladas na roda gigante, ao completar meia volta, ficariam invertidas. Isso traria um aspecto de braço quebrado para nosso projeto. Algo que não queríamos de forma alguma. A solução encontrada foi fotografar e modelar a mão, de forma que ela ficasse em um meio termo. Ela seria, olhando próximo, muito estranha. A questão é que no conjunto não se perceberia esse blefe. O segredo estava em construir o dedão e o dedo mindinho muito parecidos em tamanho e forma. Dessa maneira, quando a mão estivesse de cabeça para baixo, não pareceria que Petr tinha um problema genético. Ainda mais sendo as luvas de goleiro tão grossas, o que esconderia ainda mais a trucagem.

Estudo de como seriam as mãos. Aposto que você não tinha notado que elas eram bizarras antes de eu falar.





Briefing fotógrafo

Vou colocar aqui o briefing oficial do projeto. Apenas por esse motivo ele está em inglês.

The „crouching“ position

Our friends at MoveIt Media calculated the ideal height where the center of his chest has to be, in order to make the whole thing proportional. Martina will send the exact data, but it should be somewhere between 1,14 and 1,28 meters. We might need a couple of shots in different heights, just to be safe.


The gloves

Here, the important thing is to make his hands to be seen from a frontal angle, wide open, in a way that all 5 fingers are almost identical, equally separated and symmetrical. This is important because, when the giant wheel spins, the hands (and arms) will be shown upside down, so we don’t want them to look strange.


The arms

This one is a bit tricky. For the same reasons mentioned above, we need the arms to be completely straight, in a perfect 180° angle. Also, considering the jerseys we have received from adidas, we should turn the three stripes on the sleeves to the back of the arm, they shouldn’t be visible, so they won’t look weird when seen upside down. We can also do some variations of the way the sleeve is creased or pulled up, so the 8 arms don’t look like exact copies of each other.


The shoulders

Here we should just take care that we have one shot where the two shoulders are horizontal and aligned. Since this part will not be spinning, we can show some adidas stripes from the jersey.

The feet

This one is easy. When seen from the front, the shoes look a bit strange. So we should place his feet a bit open, but still in a natural position, not „staged“.


The Space Between his legs

Our task was to find a way to cover the arm, of Petr Cech, when it spins between his legs.

The solution the agency presented was to complete this area with a background image. The image we chose is an exact copy of the real background we have in the location. In other words, we will try to copy what “would be” between his legs for real. So what we need is an image of the wheel and surroundings. To make this look as natural as possible, there is a couple of things we have to take care.

1) Light: The light can’t be very hard. It must be as neutral as possible. We have to keep in mind the photo should not show a specific time of the day.

2) Distance: Our photo must be taken from a bit far away, to keep an angle that “matches” the image: the big goalkeeper is meant to be seen from distance. We need an image with no distortions. A perfect landscape to fit as much as possible with the real background.

3) Photos: Will be great to have some photos with the full giant wheel to understand the environment. As well as photos of some greens (trees) from the area. This will help us to hide a bit the sky if necessary.

4) Side: just to make sure we capture the right side of the wheel: the picture should be taken from the big green area, opposite to the amusement park. The goalkeeper will be facing this green area.


Shoe

The second task is to change the shoe Petr Cech is using in the base photo.
For that, there are two important things to respect in this work.

1) Light: The light must be as close as possible to the base photo.

2) Feet position: respect the angle from the base photo.



Shooting em Londres

Acabamos, por questões de logística, optando por fotografar o goleiro em Londres. Para tanto, escolhemos um estúdio nas proximidades do estádio do Chelsea. Todo o tempo com esses astros deve ser planejado e bem aproveitado.





Meu brother. Falou que vai pegar o lugar do Clemer no centenário colorado.






Quando ainda preparava minha mala para embarcar para a capital dos bretões, recebi uma notícia assustadora. Em um treino, Petr havia se lesionado. Ainda não sabíamos da gravidade, apenas a região do machucado: tornozelo. Quem joga bola sabe o quanto uma lesão de tornozelo pode ser perigosa. Existia a possibilidade de ele não jogar a EURO. Na melhor das hipóteses, teríamos que fotografá-lo com uma tala na perna. Esperei pela resposta um pouco nervoso. No fim do dia chegou a notícia que eu poderia embarcar, na manhã seguinte, sem problemas. O nosso goleiro tinha tanto interesse em participar que aceitaria submeter-se a penosa sessão de fotos, mesmo com o tornozelo inchado. Graças a Deus a lesão também não era grave o suficiente para afasta-lo do campeonato europeu de seleções.

Assim, cheguei em Londres e não tive tempo de relaxar. Peguei um Black Cab para o estúdio, logo após deixar minhas coisa no hotel. O lugar era bem naquele esquema europeu. Aqui, diferente do Brasil, onde os equipamentos são todos dos fotógrafos, aluga-se tudo. Muito profissional e organizado, diga-se de passagem. Minha chegada já era esperada e os primeiros testes de luz já haviam sido feitos. Em um canto do estúdio estava uma maquete de um metro e meio da roda-gigante. Ela seria usada como base para entendermos melhor como posicionar nosso goleiro.


passa Gelol e vai para o jogo













O estúdio estava cheio. Além de uma equipe de TV, que preparava o making off de nossas fotos, alguns jornalistas tchecos esperavam pelo fim de nosso trabalho para começar o deles. Todos queriam saber mais sobre a gravidade da lesão que havia prejudicado o principal jogador da seleção tcheca.

Petr chegou 2 horas depois de mim. Muito bem humorado, carregava uma maleta de fisioterapia que servia para esfriar seu tornozelo nos intervalos das seções de fotos. Pedimos para ele colocar o uniforme que escolhemos e esperamos pelos primeiros testes que Sebastian iria fazer. Como o ambiente estava cheio de pessoas, fiquei um pouco preocupado com o resultado. Fui para um cantinho do estúdio e montei minha estação de trabalho. Falei para o fotografo que não ficaria em volta dele. Quando ele tivesse algo para dividir bastava chamar-me. Ele respondeu que não haveriam problemas. As pessoas chave estariam bem informadas sobre o andamento das fotos.

Foi em uma dessas oportunidade que conheci pessoalmente o goleiro com quem trabalhei por tantos meses. Um cara muito simpático, educado e humilde. Impressionante, poderia dizer. Ainda mais levando-se em conta as dificuldades que meus colegas tiveram com Oliver Kahn, no ano anterior.

Um fato curioso foi quando Sebastian e o cliente começaram a falar alemão comigo. Respondi que infelizmente era o único brasileiro no set, mesmo representando uma agencia alemã. Alguns segundos depois escutei alguém me chamando em português: “Olá, tudo bom?” Quando voltei-me em direção ao interlocutor encontrei Petr rindo. Perguntei em português: “Você fala português?” Ele respondeu: “Um pouquinho”. Muito engraçado. Claro que a conversa não foi muito longe na minha língua materna. Ele estava apenas sendo atencioso e educado. Continuei nosso dialogo em inglês, que era melhor para ambos. Ele falou que aprendeu um pouco da língua de Camões com seu ex-técnico José Mourinho e com outros jogadores da equipe. Nesse mundo do futebol o português é muito falado, pensei eu.

Foram 5 horas de fotos. Todas na mesma posição, com variação na expressão e com alguns detalhes de corpo. Pedi para que tudo fosse salvo em meu computador também. Assim podia ir imaginando como resolveria alguns problemas futuros. O menor deles, seria substituir o pé imobilizado, durante a pós-produção.

No dia seguinte, acordei antes do galo cantar para pegar o primeiro vôo de Heatrow em direção a Berlim. Fiquei com uma boa impressão do trabalho. No fim, acreditava que tínhamos o necessário para iniciarmos o processo de tratamento de imagem.



Pós-produção

Preparei o briefing de pós-produção no dia seguinte ao meu retorno. Pensei que era importante montar algo bem organizado e bonito. Aqui em Berlim a tradição de tratamento de imagem é muito fraca. Na minha opinião, mesmo com uma baita escola de propaganda para carros, a media de qualidade do photoshop dos caras é bem baixa. Isso não só dos profissionais de produção, mas dos designers e diretores de arte em geral. Claro que isso se reflete em todos os degraus da escada de execução.


Legal comentar que esse é meu briefing de tratamento de imagem. Eu preparei esse esquema para facilitar a vida dos caras. Aqui tudo é oficial e organizado.









Começamos a montagem um mês após as fotos. O cliente segurou ao máximo a liberação da verba pois aguardava um relatório final dos engenheiros. Existia uma discussão sobre o que colocaríamos entre as pernas do nosso goleiro. Era um debate válido. Existia uma impossibilidade técnica para deixar o espaço vazado.






E esse é o briefing para o meio das pernas.









Foram algumas semanas procurando uma solução para esse problema. Mandamos uma dúzia de opções para o cliente antes de aprovarmos a versão final. Os caras da adidas insistiam que, o espaço entre as pernas do goleiro, deveria integrar o conceito da marca de forma natural. Nossa última opção foi fotografar a área em Viena e aplicar uma foto exata da fachada da roda gigante. Depois introduzimos na foto o conceito “impossible is nothing” como se fosse o titulo da atração. O resultado ficou muito bom e o mérito, em grande parte, foi do cliente que encheu nosso saco.






Briefing para o meio das pernas.










O próximo problema era um pouco mais grave. Segundo a empresa que iria tratar nossas imagens, a resolução das fotos do Sebastian não tinham a qualidade necessária para imprimir naquela proporção. Os caras pediam uma imagem com resolução de 50 dpi no formato original. Isso seria um arquivo fechado de 21 Gb. Uma resolução que câmera digital alguma no mundo tinha. Observei o resultado final de outros projetos da agencia fotografados em cromo e, mesmo os maiores formatos, não apresentavam qualidade superior as nossas fotos. Em todo caso, só para garantir, agendamos uma sessão de fotos com um modelo de corpo. Pedi para fotografar em máxima resolução cada detalhe. Mesmo assim, poderíamos ter problemas com a cabeça, já que não teria como fotografar novamente. Outra coisa que irritava-me era o fato de em 180 fotos, apenas uma estava no clima de expressão que eu gostaria. Achava complicado chegar no mesmo resultado se fosse necessário fotografar novamente Petr.


Até os braços foram estudados em detalhes. No Brasil da tempo para um estudo desses?




Dormi com esse problema. Depois da nova sessão com o dublê de corpo deveria decidir o que fazer. Substituir o corpo do cara ou manter o antigo. Infelizmente não gostei da posição que estava o dublê nessas novas fotos. Ele não conseguia ficar, nem de perto, numa posição agressiva e realista, como um goleiro profissional. O tempo estava correndo e precisávamos decidir rápido. Assumir a bronca das imagens em resolução inferior ou substituir pelas novas.



Como esconder a estrutura da roda e mater as proporções? Planejando.










Sentei com o Emiliano e um dos diretores de criação para bater o martelo. Ficamos com a seguinte opção. As partes que ficavam próximas da visão do público seriam substituídas pelas novas fotos, o resto seriam as antigas. Braços, pernas e chuteira na resolução máxima. O tronco e a cabeça ficaria numa distancia tão longa que seria difícil avaliar a resolução.


Primeira imagem do tratamento de imagem. Cintura ainda muito alta. Mais umas 10 horas de trabalho. Quem mandou mudar o que não devia?





Depois de umas 2 semanas recebemos o retorno da gráfica. A imagem que enviamos estava em um tamanho tão grande que a impressora travava a cada tentativa de impressão. No fim das contas acabamos sendo obrigados a diminuir o arquivo em 10x. Pelo que entendi, acabamos nos estressando muito sem necessidade.






Esquemas dos engenheiros de como montar a estrutura de metal.








Impressão

A máquina que imprimiu o nosso goleiro não era das mais modernas. Mandamos os arquivos para uma gráfica em Colônia. Nos primeiros testes, apenas a calibragem não estava boa. Em contra partida, a qualidade final era bem legal. Fui acompanhar as últimas provas na saída da impressora. Parecia uma daquelas matriciais coloridas antigas. A diferença é que ela é do tamanho de uma kombi. Os caras me explicaram que a máquina já tinha 18 anos, mas continuava muito boa. O resultado, depois da calibragem, não deixava dúvidas que ela segurava a onda.


















Tudo era impresso em um papel plástico adesivo. Ela imprimia rolos com um diâmetro de 2 metros que eram dispostos lado a lado durante a colagem. Essas faixas seriam fixadas em placas de aço presas a uma estrutura. O acabamento e recortes eram feitos, no fim, com uma pistola de ar-comprimido que furava o metal como manteiga.















Ainda sobre a impressão, ela era aquela típica de “billboard”. Numa distancia pequena, conseguia-se ver o grão grande da imagem. Como ela devia ficar a uma distância respeitável do público, não existia problema.
Um fato curioso era que, para avaliar as provas de impressão, abríamos as imagens no pátio interno do prédio (no primeiro andar) e subíamos até o quarto andar para olhar.


Montagem

O processo de montagem levou 2 semanas e só poderia ser executado à noite. Durante o dia, a roda-gigante ficava aberta para os turistas que não entendiam o que estava acontecendo. 7 containers foram estacionados em uma área da Prater onde foi organizado um quartel general.








Colagem.









A primeira providência foi a construção da estrutura onde ficariam presas as chapas de metal que futuramente receberia a impressão adesiva. Tudo segue uma padronização estilo LEGO. Parece até fácil de montar levando-se em conta os encaixes perfeitos que cada barra de metal tinha. A diferença era que, no fim, tudo era soldado. Não poderia existir possibilidade de alguma dessas estruturas desprenderem-se e vir a cair na cabeça de um turista desavisado.




Durante a noite o bichão fica muito mais fudido.







Depois dessa primeira etapa, iniciava-se a colagem. Uma equipe de profissionais era encarregada desse serviço. Diferente dos “billboards” normais onde essa etapa é feita sem maiores cuidados, aqui existia a necessidade de uma precisão cirúrgica. Se a colagem do rosto ficasse com uma aparência meio Picasso, não teria sentido a escolha de um goleiro famoso para o projeto. Por sinal, eles começaram justamente pela cabeça e depois desceram gradualmente até os pés. O recorte das extremidades era feito com uma pistola de ar-comprimido, como já mencionei, e o acabamento ficou excelente. Acho que um fator que facilitou muito esse processo, foi Petr usar o tradicional capacete nas fotos. Com ele, evitamos o mais difícil na tarefa de recorte: delinear o cabelo.






Cola direito essa porra!











Os braços, por sua vez, foram um capítulo a parte. Devido a quantidade de raios da roda gigante, eles não poderiam ser instalados eqüidistantes. Alguns teriam uma diferença menor entre si. Eram 30 raios de cabo de aço para 8 braços. Basta fazer a conta matemática para entender que seria impossível manter os mesmos com a mesma distancia entre si. Outro fator importante era que, a montagem deles foi feita por uma equipe de manutenção da própria roda-gigante. Ninguém permitiria que profissionais não especializados sequer encostasse na estrutura principal.



Tudo pronto. Só apertar o botão.










Um detalhe interessante era que o braço era montado sobre placas móveis. Isso era necessário pois toda a estrutura de cabos onde eles foram apoiadas se movia. Se eles fossem fixos quebrariam com facilidade.














Felizmente, tudo ficou pronto um dia antes do prazo estimado. Com a engenharia alemã girando em favor da propaganda, não tinha muito o que dar errado. Bom, no fim acabou dando um probleminha sim. A estrutura ficou 60 cm mais alta do que havíamos calculado. Assim imprimimos uma pequena faixa preta onde as chuteiras ficariam apoiadas. Vale lembrar que num gigante de 60 metros, 60cm equivalem a 0,01% da altura total. Absolutamente perdoável.




Lançamento

Um dia antes da abertura da Eurocopa foi organizado um grande evento para o lançamento do nosso goleiro. Jornalistas de todo o mundo foram convidados. Tudo precisava estar perfeito. Preparamos diversos pontos de onde os jornalistas poderiam tirar fotos. O primeiro um enorme palco onde, durante os jogos, passarão as partidas de frente para o goleiro. Uma grua de 20 metros também foi alugada para elevar a galera e incentivar a conseguir fotos mais legais. Por fim, quando a noite caiu, todos poderiam subir no topo de um prédio de 30 andares próximo a Prater para pegar um ângulo ainda mais interessantes.
































Alem disso um coquetel com tudo que se tem direito e entrevista coletiva estava na agenda. Representantes da adidas, TBWA/Berlim e 180/TBWA deveriam responder questões elaboradas pelos jornalistas. Ainda bem que essa tarefa não ficou sob minha tutela. Eu certamente amarelaria na frente de tantos flashes.



















Criatura e criador.









Um kit foi dado a todos os jornalistas. Entre esses presentinhos colocamos um cartão postal com um trifásico que fazia os braços do goleiro girar. Por sinal, esse brinde fez tanto sucesso que outros milhares foram impressos, para serem vendidos como cartões postais da cidade de Viena.




Uma pequena amostra do buzz.








A inauguração teve um pequeno mico. Mas nada que assustasse ou abalasse meu otimismo. Uma contagem regressiva foi puxada pelo apresentador. No exato instante que falaram zero, o presidente da adidas e um jogador da seleção da Áustria apertaram um botão vermelho. O pano que cobria o goleiro deveria cair imediatamente. Mas apenas 10 segundos depois que lentamente uma equipe começou a desprender-se. O mecanismo falhou! Sem problemas, pois não demorou nem um minuto.




Ações paralelas

Uma coisa que é muito diferente do Brasil é como os europeus sabem “dourar a pílula”. Nada vai sozinho e órfão para rua. Um projeto grande vem acompanhado de várias outras ações paralelas que fazem tudo repercutir ainda mais.


















O trabalho apenas começa com a inauguração.






A primeira e mais simples eu já comentei. Fizemos cartões postais trifásicos, daqueles estilo as réguas de tabuada de 20 anos atrás. Eu estava com medo de que ficasse muito simples e feio mas colocar a roda para girar no papel foi uma idéia muito boa. O efeito ficou muito legal





A segunda ação foi um pouco mais complicada. Imprimimos adesivos eletrostáticos transparentes de 2 tamanhos diferentes. Fizemos isso para “seqüestrar” sinais de trânsito e de metrô que indicavam a direção da roda-gigante. Colava-mos o adesivo com o outline do goleiro exatamente em cima. Espalhamos por toda a cidade e em especial na estação e nas proximidades da Prater. Como os adesivos eram eletrostáticos não poderíamos ser presos por vandalismo.



Outra idéia simples e de efeito foi o carimbo com a silhueta do Petr. Esse colocamos em alguns lugares estratégicos. Na recepção do hotel, servia para carimbar os mapas da cidade e de metrô, indicando onde era a roda-gigante. Na Prater, servia para marcar os ingressos das pessoas, indicando que já foram usados e não valiam mais. Também usamos para carimbar a criançada que achava legal ter uma “tatuagem” do Impossible Goalkeeper.


Fotos de divulgação

Isso não tem muito como manter o controle. Organizamos, durante o evento de divulgação, algumas oportunidade fotográficas para os fotógrafos. A primeira delas era em um palco em frente a roda gigante.





Só trocamos o céu e demos uma puxada nas cores. O gigante ficou bonito para a foto de PR.




Um pouco mais afastado, ficava uma grua de 20 metros. A posição correta dela foi organizada pelo Emiliano que indicou perfeitamente o local onde tinha a melhor vista. Por sinal, o fotografo oficial da agência do evento foi ele mesmo.














A terceira posição para fotos era um escritório no alto de um prédio. Um ônibus esperava os jornalistas interessados e levava-os para esse edifício. Desse local foram tiradas as melhores fotos noturnas do goleirão.

Um dos motivos de toda essa atenção foi a necessidade de ajudarmos os jornalistas a encontrarem o melhor ângulo para a foto. Existem muitas árvores no parque, o que não é problema quando olhamos a 500 metros. Agora de dentro da Prater, alguns ângulos não favoreciam tanto. Mesmo com todas essas opções não temos como segurar o mal gosto de alguns fotógrafos e nem o céu nublado. Em todo caso, em quase sua totalidade, as fotos ficaram muito boas.

Adidas Dolomites





No meio do nada.






Em virtude de possuir um layout bem caprichado, fui convidado a conduzir o processo de produção de uma campanha do meu chefe. Não costumo aceitar esse tipo de proposta. Primeiro pelo tamanho da responsabilidade, segundo por não gostar muito do conceito em que iria trabalhar e em terceiro não sentir-me confortável em emprestar meu talento para outros Diretores de Arte. Sou um pouco individualista nesse aspecto, tenho que admitir. Mas qual o DA que não o é? Cada um no seu quadrado.














No fim das contas, não tive muito a possibilidade de negar o convite. O próprio Emiliano concordou que seria muito deselegante. Também não posso reclamar. O trabalho tinha tudo para ser uma experiência maravilhosa. O produto era adidas outdoor e as fotos teriam como cenário uma das cadeias de montanhas mais lindas da Europa, os Dolomites.














Cercado por picos nevados, lagos e rios de águas turbulentas e claras, na divisa entre três países, o palco de nossa campanha estava longe de ser uma tortura. Isso sem falar que os modelos seriam os nacionalmente conhecidos Huber Buam. Dois irmãos de origem bávara especializados em speed climbing, além de outros tipos de escalada radical e base jumping. Realmente, pensando melhor, não tinha do que reclamar. Vai que Deus castiga.



Sai de Berlim, no dia 18 de setembro 7h da manhã, rumo a Viena. De lá peguei um avião para Innsbruck onde um micro-ônibus esperava para conduzir-me até algum ponto distante em meio a muita neve, ar rarefeito e frio. Muito frio. Minha expectativa era grande. Estava um pouco desconfortável por ser o único a não falar o alemão fluente. Era uma campanha nacional, com equipe alemã e sendo orientada por um gringo (eu) que não dominava o idioma e sem muito contato com o ambiente de montanhismo. Certamente não é das tarefas mais fáceis. Mas quem disse que a vida é fácil? Azar o deles, não vou aliviar na desses alemães. Até porque não pedi para estar aqui.














As cidades nos alpes, ainda do lado austríaco, são idênticas em arquitetura a Gramado e Canela. Apenas nesse aspecto, diga-se de passagem, pois a beleza natural é incomparável. Tive um breve déjà vu. Lembrei dos anos em que viajava todos os finais de semana para a serra gaúcha com meus pais. Bons tempos em que minha única responsabilidade era com minhas notas no colégio. Agora estava com um orçamento milionário apontado diretamente para o meu ânus. Perdão pelo palavreado mas é a mais pura verdade.














Fincamos nossa base de operações em uma cidade, do lado italiano entre 2000 e 2500 metros de altitude . De lá partiríamos diariamente aos locais onde seriam as fotos. No sábado, dia 19, saímos às 8h da manhã. A locação para as primeiras fotos ficava a “apenas” 3000 metros de altura. O frio é cortante, o vento não encontra obstáculos e a neve, antes intocada, vira água em contato com as botas quentes, penetrando fundo no meu pé. Não é das sensações mais agradáveis, certamente, mas o visual é incrível. Encontro-me cercado por penhascos por todos os lados. Quando olho para baixo a vertigem é tão grande que prefiro ficar a uma distância segura de 5 metros do abismo. Sim, além de todos os detalhes já comentados que me colocavam em desvantagem como condutor do trabalho, ainda tenho medo de altura.














As primeiras fotos foram com Thomas Huber. O mais velhos dos irmãos. O cara é realmente durão. Enquanto todos escondiam-se em muitas camadas de roupas, Thomas desfilava com uma camisa de manga curta. Não porque ele queria, que fique claro, mas pela necessidade dos layouts e motivos de verão da campanha. Em todo caso não reclamou nem uma única vez do frio. Eu falei que não aliviaria na dos alemães.




Diretor de Arte ou modelo?







Um detalhe interessante é que hoje aprendi algumas coisas sobre a altitude. Sempre pensei que esse esquema de vetar jogos a mais de 2500 metros era frescura. Não é. Vocês não imaginam como é difícil respirar aqui. Qualquer caminhada é uma tremenda dificuldade. Demoro o dobro do tempo para recuperar-me. Sinto-me fraco. Quando puxo o ar para meus pulmões é como se não viesse nada. Definitivamente, altitude e futebol não combinam.


O primeiro dia de fotos fluiu de forma tranqüila. A nossa sorte foi que o frio deu uma aliviada na tarde. O sol saiu por entre as nuvens, radiante. Além de ajudar na temperatura a luz das fotos melhorou muito. Parece que Deus resolveu olhar por esse brasileiro mais uma vez.



Aproveitei a oportunidade de estar com Thomas, um dos mais experientes e malucos alpinistas da Alemanha, para enfrentar meu medo. Resolvi, em um momento de loucura, escalar um dos pequenos cumes da região. Cheguei a meio metro de um abismo de 1 km de altura. Claramente estou me borrando na foto. Thomas queria que eu chegasse ainda mais perto mas era impossível. Sentia minhas pernas moles e minha visão ficando escura. Fiquei realmente com medo de apagar e só acordar na presença de São Pedro. Pelo menos deu para mostrar que não sou um guri de apartamento.



Tenho medo de altura.
Imagina se não tivesse!

Marco Loco and Thomas Huber,
esses tem bolas de titâni0.



Alexander e Thomas são o tipo de atletas top de linha que eu gosto de trabalhar. Assim como Petr Cech, eles são camaradas, simples e interessados em dar o melhor de si. Odeio divas. Sinceramente não tenho paciência alguma. Sejam eles fotógrafos, atletas ou artistas. Ninguém está naquela posição por favor. O negócio é profissional, valendo Brahma. Se não está interessado basta não aceitar a proposta de trabalho. Simples assim.














Continuando a descrição. O segundo dia foi bem relax. Como o primeiro havia sido intenso, não precisamos nos puxar tanto. Assim, deixamos para fazer algumas fotos mais experimentais para o arquivo da adidas. Como sou um workaholic comecei a layoutar alguns dos motivos da campanha. Apesar de ainda ter muito o que clicar, principalmente falando em paisagem. Estava difícil de esconder minha satisfação com os primeiros testes. A galera respeitou muito quando, no fim do dia, já estavam executadas os dois primeiros anuncios da campanha.


A partir do quarto dia de viagem nos dedicamos a procura de paisagens. Dispensamos mais da metade da equipe, incluindos os Huber Buam e partimos para algumas das locações mais belas da viagem. Seriamos agora 4: David (atendimento), Stefan (fotografo), Peter (produtor de locações) e eu. Pegamos o carro e passamos a circular entre os três paises: Áustria, Suíça e Itália. A primeira parada seria do lado Suíço em uma região de neves eternas e geleiras a 4000 metros de altura.




Marco Loco e David Barton a 3000 metros.





Dormimos em um pequeno hotel para alpinistas e acordamos bem cedo. Infelizmente o tempo não estava muito bom. A quantidade de neve que caiu na madrugada era absurda. Acabou atrapalhando nossos planos de fotografar um lago na região. Assim, entramos no carro e partimos para o outro lado da montanha onde, segundo informações, o sol brilhava a todo vapor.

















Essa foi a rotina nos dias que se seguiram. Pegar o carro e circular vales e montanhas a procura das paisagens mais bonitas em momentos de luz propícia. Foi muito educativo ver as geleiras, que antes se estendiam por quilômetros, estarem resumidas a pequenas formações. Tímidas elas suspiram seus últimos momentos e fazem com que estações de esqui obriguem-se a subir cada vez mais alto na montanha.



























O segundo hotel em que ficamos, na Suíça, era ainda mais distante da sociedade. Como diria David Barton, nosso atendimento: “in the back arse of nowhere”. Ao lado de uma geleira, ficava aberto durante apenas 3 meses do ano. Nos demais não existia possibilidade. Além de fecharem as estradas até o alto da montanha, ele ficava coberto até o telhado de neve. Aproveitamos e acordamos, mais uma vez, bem cedo, para fazer mais algumas fotos de paisagem, essas seriam perfeitas para os motivos de inverno.



























No mesmo dia empacotamos as coisas para voltarmos a Berlim. Apesar da beleza natural, da calma, do ar puro e da comida farta, estava feliz de voltar para minha casa. Faziam já 7 dias que andava em uma paisagem do qual não pertencia. Como um vírus pressionado a abandonar o hospedeiro, sentia-me alheio ao ambiente. Mesmo assim era tomado por uma tristeza. Não sei se algum dia retornarei a esse lugar inóspito. Por mais estranho que possa parecer estava dividido. Depois de refletir um pouco enfim encontrei alento em um pensamento. Ano que vem será fotografada a campanha 2010. Quem sabe um reencontro.