quarta-feira, 12 de setembro de 2007

A Cultura do Bastantão

O Rodrigo Pinto odeia a cultura do bastantão. Não só odeia muito, como tem vergonha dela. Para ele não existe nada pior do que ir para o Rio Grande do Sul e sentar em um belo Café Colonial. Ou pior, aquela boa e velha churrascaria espeto corrido onde o garçom não te deixa nem falar. Para ele, restaurante tem que ter ambiente, prato bonito e comida saborosa. Sentar com calma, apreciar toda a experiência e degustar uma das melhores coisas da vida. Talvez hoje, com a maturidade, entenda um pouco o que tanto desagrada o Rodrigão.












Não vou mentir que se existisse um espeto corrido a 10 euros, aqui em Berlim, iria correndo. Infelizmente, para o meu amigo, minha maturidade ainda não chegou ao ramo gastronômico. Estava me referindo a propaganda.

Uma das coisas que descobri aqui, é o repudio a cultura do bastantão. O diretor de criação não tem saco para olhar mais que 5 idéias. Claro que no início isso me assustou um pouco. Não sabia nem como agir. Parecia que eu nem tinha trabalhado! Para mim, o bonito era chegar com um bloco de "rafes" para discutir. Me lembro de lendas, sobre o Nizam, onde ele espancava jovens duplas que se apresentavam com menos de 50 opções. Se é verdade eu não sei.

Perguntei para o Emiliano o porquê de eles confiarem tanto no critério dos subordinados. Foram duas as respostas. A primeira diz respeito ao preço do tempo dos caras (e isso inclui o custo do saco deles). A segunda foi mais simples: ---- Observe o “Senior” que vem escrito antes do “Art Director” do teu cartão.

Depois da resposta, curta e grossa, tudo pareceu mais claro. Existe, na cultura do bastantão, um desperdício gigantesco em esforço e tempo. Isso vale no restaurante, que joga fora quilos de restos de comida e horas de funcionário que preparam tudo. Como também se aplica a uma agência de propaganda.

Porque um funcionário, bem pago, não pode auxiliar o seu chefe no critério? Em uma agência como a Lew,Lara isso fica mais evidente. Se formos falar por senioridade, posso garantir que a maioria das duplas lá são sênior. E não estou falando de idade. Nessa o Renatão ia ganhar de todos com seus quarentinha de praia. Estou falando de maturidade no trabalho. Quase todos os criativos que estão na Lew,Lara (como em qualquer agência grande de São Paulo) são bem rodados e já provaram sua qualidade. Então porque de continuamos a tratar criatividade como espeto corrido?

Para começar tenho que isentar o Marquinho Versolato. Ele foi um dos primeiros a falar que bastava uma idéia para resolver qualquer problema. Para isso, ela precisava ser boa o bastante. Como chefe, ele sempre pareceu entender que quantidade não é qualidade. Acho que o Dedé e o Jaques também concordam com isso.

Se o problema não está nos chefes, talvez esteja na outra ponta. Nós criativos aprendemos que precisávamos mostrar trabalho. Não sei onde surgiu essa escola de idéia em quilo mas acho que ela esta equivocada, em parte. Não duvido que para se chegar em um raciocínio genial, devam ser gastos muitos metros cúbicos de papel. Essa conclusão é óbvia: precisa-se queimar muito tempo e fósforo na busca do brilhante. O que está errado é achar que levando todo o bagaço, estamos provando como foi complicado extrair o suco.

O que falta, talvez, seja mais confiança. Pegar a bola e partir para cima do zagueiro. Se o chefe não gostar de nada, depois é só dar aquela boa e velha resgatada. Além de gastar um tempo em novas idéias. Quantas vezes já escutei choro porque o Diretor de Criação escolheu uma opção menos querida. Se não tinha tanto amor porque apresentou? Bobeou bichão.

5 comentários:

renato lopes disse...

Ae, gostei bastantão dessa.

marie disse...

excelente! adorei! beijinhos e continua escrevendo! tá muito bacana o blog e é muito bom saber notícias tuas, amigo! marie

Marco. disse...

Fudido, Locao.
Concordo com cada afirmaçao do seu texto.
menos uma, obviamente.
pense gafanhoto, pense...

Abs,

Pernil

mutantix disse...

Marco Loco Bezerra! Tu anda longe de Sumpa e mais longe ainda aqui dos pampas... Mas queria te falar que a cultura do bastantão tem em tudo que é área, em tudo que é lugar. Pelo menos no Brasil. Quando trabalho pra qualquer agência (daqui, SP, SC, Rio), se eu nnao apresentar um bom número de fotos, parece que cobrei muitoi e tô dando pouco. isso não significa que eu nnao cliquei muito, só apresentei o que eu julguei ok, legal, megamasterbacana... Se me pagam pra resolver fotograficamente um layout, porque duvidar da minha solução? Hã? Tem de tudo por aqui, baby.

Grande abraço!
Raul Krebs

. disse...

Ok. concordo com você e com seu chefe. Mas é aquilo: se os profissionais não são bem....profissionais (ou seja, como voc~e disse, não são seniors, seja de que idade forem) a publicidade vai continuar no bastantão (e coloca tempo nisso por aqui). Porque cada vez mais a publicidade está com pessoas despreparadas. o que significa menos experiência e consequentemente menos idéias que acertem no alvo. Por isso, a quantidade tende a aumentar, e muito, já que, quem não tem experiência vai continuar acertando para tudo quanto é lado em busca de uma que acerte. E isso acarreta perda de tempo com reuniões longas para separar o que poderia ser bom do que não é. A infantilização da publicidade é uma das causas. Um abraço, Danyel Sak www.sakdanyel.blogspot.com www.danyelfolio.blogspot.com www.trixxxcompany.blogspot.com