sábado, 17 de novembro de 2007

Qualidades Mentais: Uma Cagada de Regra.

Maquiavel foi um grande cagador de regras. Talvez o maior cagador de regras da nossa história. Dizem que ele é o fundador da ciência política moderna. Isso sem nunca ter comandado um Estado. Em resumo, ele escreveu sua maior obra sem nunca exercer a profissão. Bom, não é exatamente sobre isso que eu gostaria de falar.

Não gosto muito de teoria, sou mais prático, mas concordo com dois de seu conceitos: o de virtù e fortuna. Atalhando o raciocínio, virtù são as qualidades necessárias para um governante e fortuna é sorte. O cara só se dava bem se tivesse as duas coisas. Eu acho simples e inteligente. Quase indiscutível.

Nas próximas linhas vou ser um pouco Maquiavel e tirar algumas conclusões metafísicas. Nada como falar de teorias que não podem ser comprovadas por um experimento científico, para cagar uma boa regra.

Sobre sorte não tenho o que falar. É algo muito subjetivo. Sendo assim, eu me interesso pelas qualidades (pelo conceito de virtù), principalmente as mentais. Nos últimos dias, pensando sobre o assunto, cheguei a uma conclusão. Na minha opinião, existem quatro qualidades mentais das quais derivam todas as outras, são elas: a inteligência, o conhecimento, a disciplina e a sabedoria.

A inteligência é meio como a sorte e poderia ser classificada como fortuna. É algo imutável: o cara nasce com ela. Ainda não existe como mudar o DNA e fazer com que uma pessoa aprenda mais rápido, tenha uma memória maior ou entenda as coisas de primeira. Isso são heranças biológicas. Um dia, quem sabe, isso deixará de ser uma loteria. Infelizmente para mim, acho que até lá já terei batido as botas.

O conhecimento é fruto do estudo, da teoria e da prática. É o nosso HD interno. Todas as informações que acumulamos são guardadas e combinadas através do conhecimento. Claro que, um cara inteligente, costuma ter esse atributo muito acima da média. Não quer dizer que isso seja uma regra. Uma pessoa inteligente e preguiçosa não se compara a um mediano esforçado. Outra coisa, o conhecimento é influenciado pelo tempo. Ele cresce e se desenvolve na medida que dedicamos esforço ao assunto. Esse é o atributo principal dos acadêmicos e cagadores de regra. É impossível defender uma opinião sem ter um bom exemplo ou analogia para cruzar com o problema proposto.

A disciplina é exercício puro. Você treina e aprende a controlar a sua mente. Certamente, disciplinando pensamentos e controlando sentimentos, fica mais fácil dominar as ações do corpo. É como a analogia da carruagem e dos cavalos, de Gurdjieff. Os cavalos são os sentimentos e pensamentos, a carruagem é o corpo. O condutor precisa saber levar os cavalos para controlar melhor o carruagem. A disciplina é o que permite aos Sadhus suportarem a dor em seus votos sagrados. Quem de nós teria a capacidade de ficar 15 anos com um braço levantado ou 20 com uma faca atravessada em um membro? Nem o BOPE e nem SELVA.



A sabedoria é a qualidade mais importante, na minha opinião. Ela independe da inteligência e do conhecimento, é fruto da simples observação e entendimento dos fenômenos da vida. Um homem do campo, pode ter um conhecimento raso e uma sabedoria profunda. Num mosteiro, existem monges que só estudaram religião durante toda a vida. Mesmo assim, estes esconder uma sabedoria magnífica. Um outro ponto: ela é imensamente atrelada a interpretação correta das experiências do tempo. Costuma vir com a idade, com os erros e acertos da vida. Mesmo assim existem exceções onde velhos são mesquinhos ou cegos emocionais. Em todo caso, são raros os que não apresentam uma vasta sabedoria. Tudo porquê grandes perdas, traumas, dores, amores, beijos não podem ser aprendidos em livros. Estas experiências apenas podem ser vividas. Um ensinamento budista fala exatamente sobre isso. Nele, um monge exemplifica a dificuldade de explicar o nirvana com a seguinte pergunta:. ---Como demonstrar o sabor do mel para quem nunca provou?

Como todo bom cagador de regras, para fundamentar um pouco a minha teoria, vou falar de algumas alegorias antigas que ilustram meu pensamento.

O Evangelho Segundo São Mateus trata da vida de Jesus. No entanto, um livro não aceito em nossa Bíblia traz histórias do filho de Deus, antes dos 30 anos. Seu nome é A infância Segundo o Evangelho de Thomas. Nesses manuscritos Jesus é apresentado como uma criança normal, que inclusive usa os seus talentos de forma irresponsável. Na primeira parte do livro Jesus brinca na lama do rio Jordão fazendo pássaros (vivos é claro) da areia da margem. Com 5 anos, ele usava seus poderes para humilhar seus professores, derrubar seus amigos, mostrando um lado até mesmo cruel. No segundo ato Jesus tem 8, ele descobre sua responsabilidade e usa o seu poder para o bem. Entre os feitos dessa parte do livro está um milagre onde ele iguala as arestas de um móvel que seu pai cortou errado e, com uma semente, plantou comida para uma centena de pobres. Com 12, na terceira parte, ele já era o Jesus sábio do Novo Testamento.

É impressionante imaginar que, de tão popular, algumas histórias desse livro foram incorporadas ao Alcorão. Hoje esse texto quase não existe. Um testamento que ensinava a essência do despertar da sabedoria, em uma pessoa inteligente e culta. Aqui ainda vale um parêntese. É impossível falar desse testamento e não lembrar do clássico do Allan Sieber “Deus é Pai”.



Outro exemplo é quando o Dalai Lama falou que o Budismo cometeu erros no Tibete. O principal deles foi isolar-se do mundo, incluindo não participar da ONU. Esse pecado foi pago por um preço muito caro. O Tibete foi invadido pela China. Na minha opinião essa ilha de sabedoria ficou afastada do conhecimento do oriente. Não se modernizou em alguns aspectos importantes, principalmente na política e na medicina. Enquanto isso seu vizinho Butão continua com uma monarquia vitalícia. Não teve a infelicidade do Tibete graças as manobras de seu governante. Mesmo sendo o país mais fechado do mundo, ganha alto com o turismo e investe mandando seus médicos e professores para estudar no oriente.

Será que o rei Hussein, de 1998, comandaria as tropas jordanianas, favorável a união árabe, em um ataque a Israel? Ataque esse que lhe custou metade da cidade sagrada e as terras a oeste do rio Jordão. Isso sem falar em um atentado terrorista, (de seus irmãos árabes Palestinos) que quase tirou sua vida. Será que ele tomaria essa decisão, tendo aparentes cabelos brancos, mesmo sem saber que o resultado seria a derrota?



Como toda teoria bem formatada, esse conteúdo pode encontrar respaldo em outros exemplos. Eu acho que esses três que escrevi, explicam bem minhas idéias. Infelizmente, como a maioria das cagadas de regra, esse conteúdo revela-se pura especulação. Como já falei, não pode ser comprovado fora do ambiente do laboratório mental. São apenas palavras ao vento. Um pouco de inteligência burra para divertir o cérebro, até que outra teoria maravilhosa ocupe o espaço vago antes por Maquiavel.

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