Finalmente começo a entender melhor a cidade. Acho que até não apanhei tanto. Certamente, podia ter sido muito pior. Sei de pessoas que nem sairam de casa nesses meses de inverno. Tudo para evitar o frio de -7 graus e ter que falar alemão. Convenhamos, nem tava tão frio.
Motivado nesse meu amadurecimento, vou começar a publicar dicas de lugares que eu acho bacana aqui em Berlim. Assim, mais tarde, qualquer um poderá comprovar ou desqualificar minha opinião. Como sou um cara generoso, nada mais justo que dividir meu pouco conhecimento com meus amigos brasileiros. Obviamente, os meus textos, continuarão no mesmo estilo: cagando uma regra leve e filosofando muito. Tudo para manter a boa tradição do Blog.
Passando por essa introdução necessária, aqui vai a primeira dica: Weinerei.
O que eu gosto nesse lugar, é que ele reflete muitos dos aspectos do alemão berlinense do início do milênio. Um cara que tem tudo do alemão médio com um porém: é soltinho. Sendo mais claro, afinal ninguém precisa saber quais são essas características, vou falar sobre elas no próximo parágrafo.
Os alemães médios são organizados, frios e honestos, parecendo até mal educados em alguns casos. O berlinense jovem soma a essas características qualidades como a criatividade (não espontânea como a nossa mas do jeito deles) a sociabilidade, a curiosidade e a ousadia. Acrescente, ao contexto, a falta de grana de uma cidade que acaba de sair de um regime comunista. Agora misture, a essa massa, conhecimento de jovens de toda a Europa que vem para estudar gastando pouco. Coloque tudo para assar com cerveja, vinho e ervas aromáticas até uns 25 anos. Pronto! Você tem um berlinense do novo milênio.
Vinho braco
Vou me estender um pouco mais, nesse prelúdio de apresentação do Weinerei, para falar da região onde ele fica. O nome do bairro é Mitte, que nada mais é que o centro de Berlim. Como já comentei no meu texto sobre a Tacheles, é um lugar cheio de galerias de arte e muito intenso. Mesmo já transformado em um bairro charmoso, existem muitas partes dominadas pelos alternativos. Exemplo disso são todas as galerias próximas a estação Rosenthaler Platz. Principalmente algumas na Brunnenstrasse e Torstrasse ou outras um pouco mais afastadas, perto da Gipstrasse. Vou falar um pouco mais, desses redutos de arte alternativa, em meus próximos textos. Podem me cobrar.
Galera pegando um rango
Voltando ao tema desse comentário. O Weinerei fica em uma rua perpendicular a Brunnenstrasse, seu nome é Veteranenstrasse. Para se localizar melhor, aqui vai mais uma dica: esquina com a Fehrberliner Strasse. Se você é como eu e não consegue memorizar nomes de rua em alemão, vou facilitar mais ainda e postar o mapa.
A coisa mais legal do lugar não é a decoração ex-comunista-velho-charmoso, muito menos a diversidade de bebida ou comida. Na verdade, o lugar serve apenas vinho, água e uns dois tipos de suco. A comida se resume a um buffet, servido próximo das 20:00, com uma opção de prato, (prato principal, salada e pão). Para comer basta levantar-se, entrar numa pequena fila e montar o prato. Na última vez que fui era peixe com molho de requeijão e ervas, acompanhado de arroz. Tudo muito gostoso, feito no capricho mas nada especial.
Na verdade lá tudo quem faz é você. E esse é o charme. As bebidas ficam em um balcão logo na entrada. São umas 20 ou 30 opções de vinho (entre tinto, branco e rose). Acabou o copo? Se levanta e se serve vagabundo. Até aí tudo bem. Ainda mais levando em conta os preços do serviço aqui na Europa e a tradição comunista. Certamente, você já deve ter visto lugares assim na época de faculdade. O negócio é que esse perfil vai mais longe.
Quando você chega no Weinerei ninguém te aborda. Para os iniciantes o melhor é direcionar-se até o balcão e perguntar como a casa funciona. Como eu já fiz isso, aqui vai a descrição.
Coloque um euro no pote de moedas que fica logo ao lado dos cálices. Pegue um deles e encha o copo com o vinho de sua preferência. Depois beba e coma o quanto tiver vontade ou aguentar. No fim, coloque quanto dinheiro você acha que valeu sua noite dentro do vaso de vidro.
Se você leu sem atenção vou repetir a última parte: coloque quanto dinheiro você acha que valeu sua noite. Isso mesmo, você paga quanto quiser. Para mim isso é muito surrealismo. Quanto tempo duraria, um lugar desses, no Brasil? Acho que nem uma semana. A galera, no fim, iria roubar até a mobília velha. O mais maluco é que aqui as pessoas respeitam e pagam. Já presenciei nego, tentando dar uma de malandro, sendo questionado por outros frequentadores do porque de deixar apenas algumas moedas. Claro que o constrangimento foi todo dos espertalhões.
O que mais me envergonha é observar, que na maioria das vezes, os caras que tentam sair sem pagar falam espanhol ou português. Não tem como não ficar irritado com isso. Porque nós latinos temos a necessidade de passar os outros para trás? No fim das contas, quem paga é toda a sociedade. É a lei da selva, sempre vai ter um político mais esperto que toda a massa e vai levar muito mais grana no fim. Nós deveríamos abominar a malandragem.
Maradona na parede.
Nosso povo é fraco moralmente. Tudo é permitido levando-se alguma vantagem. É por esse motivo que ninguém se abala de sair de casa quando sabe que algum deputado ou senador ficou rico as custas de nosso trabalho. Toda sociedade tem o rabo preso. Telhado de vidro.
Para mudar nosso país devemos começar com as pequenas coisas. Não jogar papel no chão ou não aceitar o que não é devido. Minha esperança está nos poucos exemplos de seriedade e honestidade que encontro sempre junto das camadas mais necessitadas. Felizmente existem pessoas assim no Brasil.
Para finalizar vou fazer um pedido simples. Se vierem para Berlim e passarem pelo Weinerei, se comportem como alemães do novo milênio.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
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