segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
Eu acredito em karma
Karma é um conceito muito antigo, presente em muitas religiões orientais. Para quem não sabe o que é vou fazer uma explicação rápida. A idéia é que toda ação tem uma reação. Atitudes negativas acumulam demérito que será cobrado no decorrer de uma vida (ou várias). Durante muito tempo, minha educação judaico-cristã não me deu acesso a esse ensinamento. Felizmente hoje, conheço e esforço-me ao máximo para acumular méritos através de atitudes positivas. Desde que comecei a observar a vida por esse ângulo, não parei empilhar certezas sobre sua existência. Ontem o karma deu-me mais uma lição e a roda da vida completou mais uma volta. No entanto, para falar sobre esse aprendizado, preciso voltar um pouco no tempo, para os anos de 2002 e 2005.
Ser colorado nem sempre foi uma opção pela alegria, na verdade era sinônimo de sofrimento. Passei uma década vendo meu rival empilhar títulos e o meu time com uma administração vexatória. Era mais fácil o Inter frequentar o inferno da segunda divisão do que ganhar algo importante. Após uma nova ameaça de rebaixamento em 2002, novamente livrando-se da queda apenas na última partida (desta vez fora de casa, contra o Paysandu, em Belém), o Internacional recuperou a hegemonia do futebol gaúcho, com a conquista de quatro estaduais consecutivos (2002, 2003, 2004 e 2005). Em 2005 o Inter formou uma grande equipe, liderados por Muricy Ramalho e Fernandão os anos negros pareciam ter ficado no passado. Apesar dos excelentes times do Corinthians (Tevez, Masquerano e Nilmar) e São Paulo (Campeão da América e do Mundo) o colorado liderava o Brasileirão e começava a abrir larga vantagem, em relação aos outros postulantes ao título. Infelizmente, essa expectativa não se confirmou.
Toda a torcida e dirigentes do Corinthians, além de jornalistas e radialistas, sabiam que o Timão havia se tornado uma enorme lavanderia. Incrivelmente, uma chuva de dólares sujos caíam, como por milagre, no Parque São Jorge. Craques, com salários acima da realidade do futebol brasileiro, desfilavam com a camisa do time mais popular de São Paulo. A arrogância e o vale-tudo começaram a ser a marca registrada do Corinthians. A torcida e os dirigentes não viam problemas em tudo isso, claro, o importante era levantar a taça. Ninguém jamais cogitou a possibilidade do karma. Não imaginavam que, ações como essas, apenas sujavam o time e ligavam a marca, de um dos clubes mais importantes do mundo, a máfia Russa. Acho que apenas isso já seria o suficiente para o karma do Corinthians crescer negativamente. Para minha surpresa, foi apenas o começo de um longo caminho do céu ao inferno. Nesse exato ponto da história, o destino colocou colorados e corinthianos em lados opostos. Os acontecimentos que irei narrar agora mudaram a trajetória recente dos dois clubes. E o karma de ambos também.
Depois de anos de sofrimento os colorados ainda tinham muito o que chorar. Ninguém acreditou quando viram o título do Campeonato Brasileiro ser tirado do Internacional através de uma manobra extrajudicial, na qual o Corinthians foi o maior beneficiado. Dentro de campo, “o time do povo do Rio Grande do Sul” fez mais pontos que seu adversário. Porém, um suposto escândalo envolvendo manipulação de resultados abriu uma brecha para que o Corinthians disputasse novamente duas partidas das quais havia perdido. Não bastasse isso, no confronto direto entre as duas equipes do dia 20 de novembro, no Estádio do Pacaembu, o árbitro Márcio Rezende de Freitas anulou um pênalti sofrido por Tinga e, não satisfeito, expulsou o jogador colorado, que era um dos melhores da partida. Como resultado final, o clube paulista acabou ficando com o título, com apenas três pontos de vantagem sobre o Internacional, vice-campeão. Nessa época eu morava em São Paulo e acompanhei o constrangimento com que os paulistas comemoravam o titulo. O festa foi comedida. Não pareceu uma festa pela conquista de um Brasileirão. Mesmo assim, os torcedores, em sua maioria, seguiam apoiando a política de golpes baixos da diretoria do Timão. Aos colorados só restava lamber as feridas.
A compensação colorada viria no histórico ano de 2006. Treinado por Abel Braga, o time colorado sagrou-se campeão da Copa Libertadores, no dia 16 de agosto de 2006. Mais de 57 mil torcedores lotaram o Beira-Rio para assistirem ao emocionante empate em 2 a 2 contra o São Paulo (campeão mundial em 2005), colocando assim o clube colorado na galeria dos campeões da Libertadores. O dia 17 de dezembro ficará marcado na memória de todos os colorados como aquele em que o Inter viveu a maior glória de sua quase centenária existência. Alem dessa incrível façanha na América, os colorados ainda comemoraram o titulo de campeão mundial em Yokohama. Derrotando para isso o poderoso Barcelona, liderado pelo ex-gremista Ronaldinho Gaúcho (eleito duas vezes melhor jogador do mundo). Parecia até final de filme de Hollywood. O que mais o destino poderia reservar para o colorado? Para o Internacional a história parecia chegar ao fim mas ainda existia um time a enfrentar seu karma.
No dia 2 de dezembro de 2007 o Corinthians encarou seu destino de frente. Depois de denúncias no ministério público, provas cabais de uma diretoria envolvida em negócios sujos, o pior ainda estava por vir. Nessa data o Timão decidia sua vida, na primeira divisão, jogando contra o Grêmio, no estádio Olímpico. Ironicamente dessa vez, torcia também por uma vitória do Internacional frente o Goiás, no estádio Serra Dourada.
O Inter começou ganhando e o Corinthians perdendo, com um gol de Jonas no primeiro minuto de jogo. Esses dois resultados deixavam os paulistas na elite, apesar da derrota. No exato momento em que o Goiás empatou o jogo o Corinthians marcou seu gol, no Olímpico. Assim acabou a primeira etapa.
Os corinthianos torciam mais pelo Inter que para o próprio time. Pareciam acreditar mais nas qualidade do colorado que nas forças de seu jovem elenco. Foi aí que um pênalti foi marcado favorável ao Goiás. Para desespero da Fiel, o juiz mandou voltar a cobrança defendida duas vezes pelo goleiro Clemer. Na terceira tentativa, depois da desistência e incompetência de Paulo Baier, Élson fecha a tampa do caixão corinthiano. O time do Parque São Jorge irá amargar um longo ano na segunda divisão.
Após o jogo torcedores, jogadores e dirigentes do Corinthians acusaram os colorados de amolecer o jogo contra o Goiás. Acusação absolutamente incoerentes. É improvável que o Internacional entregasse o jogo no Serra Dourada. Mesmo tendo um time superior ao dos esmeraldinos, é histórica a dificuldade vermelha em Goiânia. Além do mais seria incompatível, para um clube que sofreu tanto nas mãos da injustiça, se aliar a mesma escola podre, que tanto o condenou no passado. Espero do fundo do coração que isso não tenha acontecido. Porque se for verdade, a bola pune. E o Karma também.
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8 comentários:
Parabens bom texto.
Concordo e penso muito parecido.
Brilhou, o kororado.
E sem karmas, creio eu.
gostei dessas partes do texto:
"São Paulo (Campeão da América e do Mundo)" ... "São Paulo (campeão mundial em 2005)" ahuauhauhauh
e viva o karma dos gambás ... \o/
o pior é que o inter jogou pra ganhar (menos o fernandão). e leva esse karma pra longe de nós! abs!
O karma ainda nao começou a ser pago. Bragantino, São Caetano e Gama vao mostrar isso ao Corinthians no ano que vem. E Remo, Ituano e Nacional de Pernambuco em 2009. Grato.
Concordo.
Só que aí ainda mora outra questão filosófica: ajudar a expulsar um time que manchou a história do campeonato é fazer uma coisa ruim? Ainda mais em favor do Goiás, que nunca se meteu em falcatrua e sobrevive bravamente à série A montando bons times sem ajuda da CBF ou da imprensa.
Acho MUITO que a bola pune. Mas, dessa vez, se ela punir, acho que vai ser uma pena leve, tipo serviços comunitários.
abração
Time de safado. Se ao menos fizessem a sua parte.
Careca , Corinthiano e sofredor.
pô, marcão, tu colocou o mutantismos ali do lado, na listinha de blogs e tal... levei um susto, caramba!
abs!
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