quinta-feira, 24 de julho de 2008

Love Parade é o Kumbha Mela







1,6 milhões de pessoas











No final de semana passado, a pedido da patroa, fui conhecer a tão falada Love Parade. Por muitos anos ela foi aqui em Berlim. Infelizmente, devido ao crescimento do evento e prejuízos na cidade, passou a ser itinerante. Esse ano a parada foi em Dortmund.

Saí na sexta. Peguei o ICE com destino a cidade cede, chegando no mesmo dia à noite. Algumas estações de TV iriam transmitir direto do evento e eram esperadas um milhão e meio de pessoas. Tinha tudo para ser um evento espetacular. Infelizmente não foi o que eu achei.



Antes de falar sobre a Love Parade em si, vale filosofar um pouco, como sempre. Durante minhas pesquisas no campo espiritual, sempre tive curiosidade sobre um evento que ocorria na Índia, em dias marcados por cálculos astronômicos. O Kumbha Mela ou Maha Kumbha Mela, é uma data especial para o hinduísmo e celebrado em 4 diferentes cidades sagradas da Índia. É nessa oportunidade que Sadhus e Babas saem dos grotões das montanhas e da selva para banharem-se nas águas imundas do Ganges. Minha curiosidade é tão grande, por esse encontro sagrado, que penso seriamente em partir rumo ao próximo. Nas palavras do Artur Veríssimo o Kumbha Mela é uma Rave milenar do Oriente. Com essa propaganda não tem como não interessar-se. Pelo menos para mim soa muito legal.


Vídeo muito legal. Até os tailandeses entraram na festa para vender mais.

Acontece que a Love Parade é uma versão pequena-ocidental-alemã do evento indiano. Malucos de toda Alemanha e Europa, saem de seus esconderijos para mostrar toda sua feiura e estranheza. Claro que existe uma galera bonitinha. Acontece que eles são minoria. Posso garantir, a grande maioria é tão sexy como um velho Sadhu.







sadhu






































O primeiro encontro com esse mar de gente é na estação central de Dortmund. Um oceano de pessoas, saindo em horários próximos, de seus trens, antes da abertura oficial. Logo na saída de Haupbahnhof, uma pequena revista da policia. Garrafas de vidro eram confiscadas. Durante todo o percurso e próximo aos locais mais importantes, postos de controle recolhiam os cascos de garrafas de cerveja. Sinceramente não imagino que isso era feito com o objetivo de desarmar os foliões. Acho que eles confiscavam as garrafas para evitar cacos de vidro no chão e facilitar a limpeza da cidade. Esse ultimo fato é o principal problema levantado pelas cidades cede do evento.


Estação Central de Dortmund













Assim como os Sadhus, que cobrem o corpo de cinzas enfeitando-se (enfeiando-se?) e purificando-se para o Kumbha Mela, os freaks alemães arrumam-se para a Love Parade. Varias fantasias estranhas e coloridas saem do armário. Bem, não são só as fantasias que saem do armário. Ok, deixem para lá... Voltando ao assunto, as pessoas vestem-se de forma bem experimental. Tudo para diferenciar-se da trupe e, no fim, acabar ficando igual a todo mundo.



A Love Parade acontece com a galera dançando atrás de caminhões, onde DJ´s apresentam-se, antes do encontro dos melhores no grande palco. Esses caminhões, na verdade, são uma versão piorada do trio-elétrico. Nesse aspecto a parada recebe influencias do carnaval da Bahia. Uma galera na pipoca dançando ao som dos DJ´s. Aposto que o trio do Fat Boy Slim, em Salvador, da uma surra em todos os caminhões alemães.







esse saiu...











Outro fator que prejudica o evento é que a distância entre os “trio-elétricos” é muito pequena. Acaba rolando um efeito estéreo prejudicial ao aproveitamento musical. Dá para curtir um hard techno com o ouvido esquerdo e um electro no direito. Eu acabava ficando confuso e não sabia em que ritmo deveria dançar.



Existe ainda outro ponto de confluência entre a Love Parade e o Kumbha Mela. No evento indiano, chamou-me muito a atenção a quantidade de barro e poeira que a multidão levanta do chão batido. Em Dortmund não existiam estradas de terra. Em contra partida os canteiros das avenidas centrais precisavam apenas alguns litros de água para virar Woodstock. E a água veio. Claro. Uma chuva violentíssima começou a cair no início da manhã e só piorou no decorrer do dia. Uma pena que não seguimos a moda e compramos um par de gummistiefel. São as tradicionais botas de borracha que viraram febre na Europa junto com os festivais de verão.








Bota de borracha.













Woodstock










Pouco antes de começarem as apresentações junto ao palco principal, resolvi deslocar-me para próximo dele. Arrumamos um cantinho bacana para esperar os DJ´s. Faltando apenas alguns minutinhos para a abertura, a chuva piorou ainda mais. Pelos microfones avisaram para a galera sair da área mais próxima do palco, pois estava alagando tudo. Justamente onde eu estava. Aí foi a gota d’água, para ficar no trocadilho. Resolvi colocar a patroa no colo e voltar para o hotel. Foi a melhor decisão







Chegando no quarto tirei minha roupa molhada e suja e tomei um belo banho. O Hotel era muito bacana. Abri a mão e reservei um 4 estrelas. Depois da ducha sentei na cama e sintonizei a TV no Canal VIVA que transmitia o festival ao vivo. Enquanto assistia as apresentações dos DJ´s olhava a galera emocionada dançando. Pela Televisão, no quentinho e confortável quarto do Golden Tulip Hotel, a Love Parade estava sensacional. Aí pensei o seguinte: será que tem transmissão ao vivo do Kumbha Mela na TV de Nova Dehli?

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Praia em Berlim















O verão Europeu é complicado para o Blog. Nunca fico em casa. Sempre tem uma atividade bacana para divertir-me. Acabo nem postando muito pois, diferente do inverno, não tenho saco de sentar na frente do computador. Assim, para não deixar esse espaço às moscas, resolvi falar de um evento que está rolando aqui em Berlim. O lance é bem no clima do verão: um campeonato mundial de esculturas de areia. Andava curioso com os castelos gigantes que via pela janela do trem, todos os dias, quando passava perto do Spree. Sábado passado convidei a Lisi e demos uma passada por lá.








Labirinto do Minotauro. Podia ser melhor.






















Você pode até perguntar-se, como os caras fizeram castelos de areia se aqui em Berlim não tem praia. Na verdade não tem mesmo. Os Alemães apenas seguiram o exemplo dos Franceses no rio Senna, armaram um circo na frente do canal. Pelo que escutei, foram 2.300 toneladas de areia colocadas na margem do Spree. Tudo para emprestar aquele ar praiano, a uma extensão de 200m, próxima a estação de trem central. Pode não ficar legal como uma praia de verdade mas o esquema todo é bem agradável.







Escultura vencedora.






Vieram equipes de escultores do mundo todo, para o evento. Segundo os organizadores, os maiores especialistas foram chamados. Apesar do Brasil ter uma das maiores costas do planeta, nenhuma equipe brasileira participou. Vou admitir que fiquei um pouco decepcionado com a falta de sul-americanos. Na verdade acho que nós temos coisa muito mais legais para fazer na praia que brincar de castelinho.




























Assim, depois do almoço, esquentei a água do chimarrão e embarquei rumo a Haupbanhof. Aterrisei em um bom horário, no início da tarde. Apesar de não ter conferido antes, não queria gastar mais de 10 Euros por pessoa na entrada. Ainda bem que quando chegamos lá a expectativa confirmou-se: 6,50 cada. Caso fosse mais que o planejado desistiria e sofreria as conseqüências. Acho que a Lisi não iria gostar de tomar chimarrão na estação de trem. Sim, essa vida européia esta me deixando o cara mais pão duro do mundo.




























Apesar de as esculturas serem muito legais, não foram elas as coisas que mais me impressionaram. Olhando as fotos dos anos anteriores acabei achando os trabalhos de 2008 bem piores. Tudo bem, tinham uns bem legais. O castelo vencedor, da turma da Índia, era muito bem trabalhado. Os caras foram esforçados nos detalhes. Eu acho que são nessas pequenas coisas que a qualidade do artista aflora.























Trabalho Holandês. Um dos meus favoritos. Usa elementos de grafite com perspectiva tridimensional.















Em todo caso, a verdade é que o mais bacana foi ver o espaço que os caras montaram. Um lugarzinho de lazer na beira do rio. Junto aos castelos fica uma enorme área onde os pais podem ir com os filhos. Nesse local, instrutores dão workshop para as crianças de como esculpir em areia. Alem disso eles colocaram cadeiras de praia em toda a extensão do canal, para a galera sentar no sol. Também levantaram tendas onde vendia-se crepe, cerveja e sorvete. Uma verdadeira farofada alemã. Só faltou o tradicional würst (salsicha) na brasa. Eu comeria uma fácil acompanhado do meu mate amargo. Pode não ser melhor que Maresias, mas já pode competir com Tramandai.








Quem não tem mar se contenta com canal.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Entretenimento

O meu antigo dupla João Braga odeia a Palavra entretenimento. Infelizmente, para ele, não encontrei sinônimo melhor para intitular esse tópico. Engraçado que, o que vou falar aqui, foi extensamente e muito bem desenvolvido pelo Fabiano Goldoni no Blog da Perestroika. Então pensei que, se tem mais alguém falando sobre o tema, é por que o assunto deve ser importante.

Para iniciar a teoria, vou escrever sobre a minha vida. Como sempre, ela vai funcionar como exemplo para o meu raciocínio. Mais uma vez fundamentarei meu trabalho na própria experiência sensorial e emocional. Palavras bonitas mas de utilidade nula se não forem bem complementadas. Então vamos lá.

Depois que vim morar em Berlim, assumi uma postura muito mais seletiva e ativa quanto a televisão. Não vou ser hipócrita e dizer que não gosto de dar uma “vidradinha numa tela”. Adoro um bom documentário ou filme de ação. Isso sem falar nas séries de TV. O problema é que não tenho televisão a cabo e muito menos consigo entender a língua nativa. Assim, hoje, eu assisto meus programas prediletos no computador.

Pode parecer estranho mas, sem querer, acabei me tornando o exemplo melhor acabado do telespectador do futuro. Porque eu iria assistir propaganda se eu posso saltar de um episódio de “Lost” para outro de “Heros” e finalizando com um documentário sobre as “Baleias do Egito”? Tudo coladinho, sem intervalo e perda de tempo. O que você faria se tivesse essa opção? Bom, você já tem ela.

Hoje propaganda não compete com outros comerciais. Propaganda briga com entretenimento. A pergunta que segue, a essa enumeração de fatos, é a seguinte: como competir? A solução certamente não está em procurar formas de obrigar as pessoas a assistir comerciais. Isso é apenas mais um tiro no pé. A única maneira é transformar propaganda em entretenimento.

Acho que, inclusive, esses institutos de pesquisa deveriam fazer testes de forma diferente. Por que não um em que o consumidor pode escolher, livremente, o que assistir e fazer? Observar se a preferência é um filme e jogar video game ou ver os comerciais entre eles. Tudo poderia ser selecionado com um controle remoto. Se o cara não assistir o comercial antes da diversão, por vontade própria, não passa no teste. Garanto que muitas idéias ousadas acabariam aprovadas assim.

Outra coisa interessante é que “o que falamos” está perdendo força para o “como falamos”. Sendo mais claro, não vai fazer muita diferença ter um conceito forte e inteligente se o filme ou anuncio forem chatos. Em resumo, menos filosofia e mais diversão.

Para desenvolver meu raciocínio, acho melhor enumerar alguns exemplos. Um cara que é perfeito, para isso, é o Juan Cabral. Em sua maioria, os trabalhos dele são divertidos. O filme “Balls”, de Sony Bravia, é uma execução maravilhosa com uma trilha linda. Assisti-lo é como curtir um clipe de uma banda legal. É uma super experiência visual aqueles milhares de bolinhas quicando ladeira abaixo em São Francisco. Quem nunca sonhou em fazer isso? Eu já. Sem discussão, um baita de um filme. Agora qual o conceito? “Colour like no other”. Sozinho ele não diz muito, pode vender até coleção primavera-verão das Lojas Renner.



Apenas para comparar e deixar mais clara minha teoria, vou citar uma formulação que é maravilhosa. Acho o conceito da Folha de São Paulo, do Ricardo Freire, muito mais esperto: “Não da para não ler”. A construção é inteligente e bonita. Além de através da negação fazer uma afirmação. Justamente o contrário que os Gurus da propaganda pregam. Acho perfeito para um jornal.

O primeiro cara que me apontou essa curiosidade, sobre o conceito do filme “Balls”, foi meu grande amigo Marco Pernil Giannelli. Não poderia deixar de dar crédito para ele nesse texto.

Voltando ao tema. Outro bom exemplo, ainda com o Juan Cabral, é o filme do gorila para Cadburys. Esse é muito discutido como peça criativa, mas não tem como negar que é um sucesso. Vale conferir a quantidade de paródias e citações espontâneas que existem sobre ele no Youtube e na internet. Isso sem falar que alavancou as vendas do chocolate e ganhou um Grand Prix em Cannes. Qual o conceito? “a glass and a half full of joy”. Juro que até hoje não entendi muito bem.



Para fazer o contraponto, aqui vai uma outra formulação conceitual que acho boa: “Impossible is nothing”, da Adidas. Tem como achar algo com mais impacto para uma marca de material esportivo? Difícil.

Novamente tenho que dizer que isso não passa de uma cagação de regra baseada em uma observação pessoal. É assim que eu penso e é para esse caminho que pretendo direcionar meus esforços. Por sinal, conheço uma centena de colegas que não concordam com minhas afirmações. Só para ficar na minha agência, alguns acham o filme Gorilla uma grande porcaria. Para eles eu devo todo meu respeito e uma pequena sugestão: meia cartelinha de Gardenal.

Mídia

Os profissionais de mídia são muito importantes. Uma colocação errada pode destruir ou ajudar uma campanha. Nós criadores não costumamos dar o valor e a atenção que eles merecem. Lembramos apenas quando precisamos entrar em uma baladinha ou veicular um fantasma. Como minha esposa começou nessa área, aprendi a respeitar esses colegas. Além de aproveitar os convites VIP para as festas que chegavam, claro.

Para a maioria dos meus amigos, basta fazer uns “x” e assinalar as semanas onde o anúncio vai veicular. Pronto, pode ficar o resto do dia surfando na internet. O que eles não sabem é que não precisa mais fazer “x” hoje em dia. Ou precisa? Sinceramente também não sei.

Por outro lado, divirto-me com anúncios não tão bem colocados. É a tradicional piada pronta. Hoje com a segmentação das mídias esse cuidado fica cada vez mais fácil. O problema é quando vai para mídia exterior. Ninguém sabe de antemão qual será o anuncio do lado ou onde estará a placa. Tudo bem, não sabem mas deveriam saber. Sinceramente, conheci poucos caras que tiveram paciência e tempo para observar onde são os pontos de outdoor e frontlight onde veicularão a campanha.

Em muitas oportunidades, a colocação do anúncio é a própria idéia. Quem disse que mídia não pode ser criativa? Olhem por exemplo esse citylight de turismo no Brasil aqui na Alemanha. Exatamente do lado de um para doar dinheiro para as crianças famintas. Mídia casadinha. Tinha como ser melhor?