domingo, 9 de março de 2008
O Pêndulo de Foucault
Provavelmente vocês já escutaram sobre o clássico romance, de Umberto Eco, O Pêndulo de Foucault. Para quem não sabe nada sobre ele, vou fazer a tradicional introdução de primeiro parágrafo. A história é bem louca, com sociedades secretas e referências a textos antigos, além de uma trama que inicia com os Cavaleiros Templários. Apesar disso, não é exatamente esse contexto que me interessou. O que eu mais gostei foi que ele fala da teoria do pêndulo.
Jean Bernard Léon Foucault foi um físico e astrônomo francês. Foucault era filho de um editor de Paris. Estudou Medicina, carreira que ele abandonou rapidamente para dedicar-se à Física. Interessou-se pelos métodos fotográficos de Daguerre e é particularmente conhecido pela sua experiência demonstrando a rotação da Terra em torno de seu eixo. Esse é o início da viagem, o conhecido Pêndulo de Foucault. No livro, Umberto Eco trata a teoria de outra forma. Quando a sociedade se inclina muito para um lado, ela perde o equilíbrio. Assim, uma força empurra o pêndulo na direção contrária.
Vou dar um exemplo. A igreja Católica passou por um período de libertinagem com orgias no Vaticano em um período negro de sua história. A resposta para esse excesso liberal foi a inquisição. É a busca do equilíbrio. A tentativa desesperada de empurrar o pêndulo para o centro. O problema é que na maioria das vezes a força costuma jogar o peso para além da neutralidade. Passando para o lado oposto e acarretando problemas de natureza semelhante.
Eu acho esse pensamento muito interessante. Como sou um cagador de regra leve, tenho uma outra interpretação da mesma lei. Uma evolução na teoria de Foucault e Umberto Eco. Para mim, essa força é sempre presente. Não apenas na oposição ao pensamento, mas também dentro de um mesmo lado do pêndulo. Vou tentar ser mais claro.
Em uma sociedade que se caracteriza por ser descontraída, como o Brasil, existe o lado bom do carnaval e da cultura da praia. Aquela amizade e calor que só um povo latino sabe ter. Por outro lado a desorganização, junto com o tradicional jeitinho brasileiro, aliado a corrupção, mostra uma face menos agradável dessa personalidade. O sistema sempre acha seu ponto fraco. Esse seria o lado oposto do pêndulo, mesmo dentro de um mesmo contexto. A oposição dentro da similaridade.
Aqui na Alemanha também encontramos um o lado negro. Se existe um lado negro em um alemão branquelo. Tudo bem, a piada foi muito sem graça mas eu também não estou para brincadeira. Assim, voltando ao assunto, os alemães são organizados, corretos e em tudo existem regras. Eles seguem tudo com absoluta dedicação. Não atravessam o sinal vermelho jamais. Mesmo que a população da terra tenha desaparecido por intermédio de um vírus letal. Dessa maneira, cabe a pergunta: como seria o pêndulo oposto dessa sociedade quase perfeita? Eu descobri isso algumas semanas atrás. O nome desse defeito é burocracia.
Esse lado negro se revela em todos os aspectos. Dentro da agência ninguém move um dedo por pura boa vontade. Quem não quer trabalhar procura esses defeitos na rede para complicar. Enrolando as coisas, eles tem mais tempo para surfar na internet e relaxar. Claro que existem pessoas que tentam ajudar e gostam do trabalho. Mesmo esses só fazem as coisas dentro das regras.
Há duas semanas tive o meu primeiro grande problema com a Bundesrepublik. Na verdade não foi um problema comigo, foi com a Lisi. Importante dizer que desde que eu disse SIM na frente do padre e do patrão celestial ela é total responsabilidade minha. Isso quer dizer que um problema para ela é um problema meu. Bom, resumindo o blá-blá-blá. A verdade é que negaram o visto da minha gata.
Você pode perguntar-se como. Esse é exatamente o problema. É aqui que a burocracia mostra suas garras afiadas. Baseados numa lei não-sei-qualé, a embaixada não é obrigada a responder qual foi o motivo. Depois desse categórico "não" começou a briga contra a forte engrenagem enferrujada do governo alemão.
Para quem não sabe o significado do nome desse blog, Ausländerbehörde, vou explicar. Esse é o departamento de estrangeiros do governo alemão. Ele fica numa região da ex-Alemanha Oriental. Um prédio estilo comunistão, quadrado e velho. Perfeito para um burocrata se esconder. Mesmo sendo um departamento para estrangeiros, apenas uma pessoa no edifício inteiro fala inglês. Tudo para atrapalhar ao máximo a vida do estrangeiro que quer trabalhar legalmente aqui. A ilegalidade é o caminho mais fácil. Por aí vocês podem imaginar o tamanho da encrenca.
Felizmente a agência está mobilizada para segurar o brasileiro peludo que tanto se dedica. A primeira providência foi a renovação do meu contrato por tempo indeterminado. Hoje meu visto é até 2010. Um privilégio que poucos estrangeiros conseguem com 6 meses de trabalho. Com esse contrato mais longo posso inclusive ter um celular de linha. Permitido apenas para quem possui um tempo de permanência maior que 2 anos. Apesar disso, nenhum desses privilégios será suficientemente interessante se a Lisi não puder me acompanhar.
Esse é o exemplo melhor acabado da teoria do pêndulo de foucault-eco-marconiano. É uma pena que, para desenvolver uma teoria dentro de outra tão interessante, eu tenha que ser a cobaia.
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