sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Falando de Trabalho

Tenho tentado entender como o alemão médio trabalha em propaganda. Algumas coisas já posso enumerar e comentar. A primeira delas é que, como no Brasil, todo trabalho começa com a idéia, mas as semelhanças param por ai.















Aqui na Alemanha a busca é pelo conceito. Nenhuma idéia sai sem estar completamente amarrada com o conceito do produto ou da campanha. Isso tem suas vantagens e desvantagens. A parte boa é que tudo que vai para rua é muito pensado, discutido e bem embasado. Por outro lado as peças perdem muito da espontaneidade. Essa história de partir da piada e depois pensar em como encaixar na campanha, é algo considerado absolutamente abominável.

Uma coisa que admirei muito foi o respeito pela vida pessoal. Trabalhar além do horário de expediente é algo raro. No meu segundo dia acabei dando um gás até umas 11h da noite. Horário normal para os padrões paulistas. Tudo porque a agência estava em uma concorrência e os chefes realmente precisavam da ajuda. No outro dia eles fizeram questão de deixar bem claro que foi algo extraordinário. Além de agradecerem pelo esforço, algo que já foi esquecido no Brasil.














Outro lance que estranhei foi apresentar idéias em rafe. Isso também tem o lado positivo e negativo. Sendo as idéias apresentadas dessa forma, as horas gastas na execução são convertidas automaticamente em tempo pensando em mais opções e arredondando tudo. O fato de não ser obrigado a entender de todas as etapas do processo de criação traz consequências nefastas para o diretor de arte alemão. Eles são realmente muito preguiçosos. Não entendem muito de tratamento de imagem, design e tipografia. Apenas sentam em suas cadeiras e esperam que outros profissionais façam esse trabalho. Por incrível que pareça, a maioria tem dificuldade até mesmo nos rafes. Acho tudo isso muito estranho.







só no "rafe".






Aqui na Alemanha a escola de design, arte, tipografia e ilustração é muito desenvolvida. Quem nunca ouviu falar de Bauhaus? Andar pelas ruas de Berlim é uma aula de street art. Os Stikers, Stencil e Graffite nos muros da cidade dão um colorido engraçado. O que para muitos é sujeira, para mim é o mais puro néctar da juventude berlinense. Isso tudo sem mencionar o design altamente técnico, onde todo caos pode ser justificado com um traçar de linhas guias. Tudo absurdamente belo e novo. Então porque os diretores de arte não aproveitam mais isso tudo? Não sei. Estou tentando entender.








não tem parede sem desenho.



Para o Emiliano a resposta está no fato de a profissão de publicitário não ser tão glamourisada e disputada. Talvez. Acho difícil de definir. A única coisa que me atrevo a concluir é que no mundo ideal a propaganda teria um pouco de cada lado. Os prazos, a organização e o conceito alemão misturados com nossa espontaneidade, alegria e conhecimento prático. É isso que vou tentar fazer aqui. Unir o melhor dos dois mundos.

Antes de terminar esse texto, talvez seja importante salientar que estou falando de uma média. Mesmo aqui dentro da agência existem diretores de arte extra classe. O Philiph, meu chefe, por exemplo. O cara é um ilustrador extraordinário. Além de conceituar muito bem, tem um trabalho de diretor de arte invejável.














Sobre o Brasil fica um sentimento de desperdício de tempo, talento e principalmente dinheiro. Quantas campanhas layoutadas de forma perfeita morrem antes de ver a cor do dia? Apresentando 3 campanhas layoutadas para o cliente, na melhor das hipóteses, jogamos duas no lixo. Sinceramente, acho que não vale a pena.

Saudade













É o amor.




Estar sozinho em um país estrangeiro não é fácil. Sinto falta de muita coisa. Não da minha família, deles eu já sentia saudades desde que me mudei de Porto Alegre. Muito menos do trânsito de São Paulo ou das longas noites trabalhando na Lew,Lara. Um bom churrasco é algo que também poderia estar nessa saudosa lista. Mas não é sobre isso que queria falar. O que eu sinto saudades mesmo é da minha esposa Lisi.

É engraçado isso. Enquanto você está ao lado da pessoa, diariamente, é impossível mensurar essa falta. E não estou me referindo as coisas grandes que são facilmente perceptíveis. Como aquele apoio depois de um dia complicado de trabalho, ou então sexo. O que eu realmente sinto falta são das pequenas coisas que fazem de um casamento uma experiência única.

Saudades do pé gelado encostando na minha perna nas noites frias. Da forma com que ela me chama quando precisa de ajuda ou daquele sorriso lindo acompanhado de um olhar meigo. Fico sonhando com o beijo matinal antes de sair para o trabalho. Coisas pequenas no dia a dia mas gigantescas quando perdemos. Esse sentimento é tão maluco que sinto falta, inclusive, das coisas que achava chatas: arrumar a casa, estender as roupas da máquina, ir no supermercado ou aquelas implicâncias diárias.

Talvez a maturidade tenha me ensinado a real diferença entre paixão e amor.

Primeiras Impressões

Estar em Berlim é uma experiência realmente impressionante. E isso que cheguei a apenas dois dias. O fim do verão europeu traz um clima agradável a cidade e, principalmente, as pessoas. Não sei se os alemães no geral são sempre assim tão amistosos mas tenho que admitir que as primeiras impressões são bem diferentes do que estava esperando. Estou sendo surpreendentemente bem tratado. E não estou levando em conta o Emiliano, meu anfitrião, de quem eu esperava essa cortesia. A surpresa está justamente nos tão falados frios alemães.

Desde os estudantes na fila de embarque no avião (que me ofereceram um lenço de papel para conter o meu nariz rinitento) até a menina de quem vou alugar o apartamento. Todos me trataram de forma muito sincera e carinhosa. Sempre preocupados em ajudar dando dicas de lugares legais e tipicamente berlinenses. Talvez só estejam com pena desse pobre sul americano perdido na cidade.

Em todo caso não tenho nada a reclamar dos alemães. Sim, eles são diferentes de nós. Mas de uma forma totalmente inesperada e, de certa forma, muito mais autêntica. Ninguém vai te dar o telefone ou oferecer ajuda se realmente não gostar de você. Diferente de nós brasileiros, presos nesse rótulo de povo alegre, que muitas vezes trocam telefones apenas por cortesia, esperando do fundo do coração que o outro jamais retorne a ligação. Aqui ninguém faz nada apenas para manter as aparências. Algo que eu particularmente gostei muito.

A única coisa que os brasileiros me alertaram e estavam totalmente certos é a respeito da cidade. Berlim é linda, cosmopolita, liberal e organizada. Parece que eles pegaram o que havia de melhor da Alemanha e retiraram aquele ar certinho. O que poderia ser melhor?

Arquitetonicamente falando, a cidade é muito mais horizontal do que vertical. Essa característica comum em capitais europeias faz com que tudo pareça muito mais interiorano, mais intimista e menos opressor. Levando em conta que minha última moradia foi em São Paulo, qualquer lugar pareceria menos intimidador. Acho que Berlim é uma mistura de Londres e Amsterdam, com uma rede de metro elogiável e bicicletas disputando espaço com carros e pedestres (com vitória dos ciclistas na maioria das vezes).

Tenho um pressentimento que vou gostar muito daqui.